Remodelação do Governo em dois actos

A saída de Miguel Relvas do Governo foi combinada em meados de Março com Passos Coelho, estando prevista que a remodelação do Governo fosse feita em dois actos. A ideia é que Relvas, amigo pessoal do primeiro-ministro mas ao mesmo tempo «a mochila mais pesada nas costas de Passos», nas palavras de um dirigente social-democrata,…

a lógica era esta: abril é o mês horribilis: tc, negociação da dívida em bruxelas, cortes na despesa. só depois é que o pm terá todas as cartas na mesa para tentar virar o ciclo com uma profunda remodelação. «ele só tem uma bala e tem que a usar da melhor maneira», resumia há dias fonte do psd.

mas os planos iniciais complicaram-se. relvas, entalado entre a moção de censura do ps imprevista e o acórdão do tc, levou com o inquérito da lusófona à sua licenciatura em cima. o estrondo foi grande. e, agora, as pressões sobre passos para que aproveite para fazer uma grande remodelação ainda podem deitar por terra o plano inicial.

alguns governantes, soube o sol, não gostaram do timing escolhido por passos e relvas e criticam o primeiro-ministro por estar a gerir a conta-gotas as mudanças no governo.

o cds, por seu turno, recusa-se a acreditar que relvas seja pura e simplesmente substituído sem mais mudanças no governo («seria muito estranho», ouve-se). para além de defenderem mudanças na presidência do conselho de ministros (pcm), os centristas querem pelo menos a saída do ministro da economia. «é preciso uma orientação diferente no governo e o fim da ditadura das finanças», afirmou ao sol um dirigente do cds.

na quinta-feira, passos coelho esteve reunido com o presidente da república e saiu da audiência, porém, sem apresentar a cavaco o nome do sucessor de relvas. e sem data para a posse do sucessor. o compasso de espera promete durar alguns dias.

em declarações ao sol, o ministro-adjunto demissionário declarou: «fechei o meu ciclo. fiz coisas boas e más. no futuro, far-se-á o balanço». para além da polémica sobre a licenciatura, o seu mandato ficou marcado por vários casos que desgastaram a sua imagem e a do governo: o dossiê rtp ou o escândalo das secretas em que esteve envolvido. por sinal, o ex-espião jorge silva carvalho é admitido na pcm dias antes do ministro pedir a demissão.

entre os mais próximos de passos, apontam-se já potenciais sucessores. morais sarmento e josé matos correia seriam desejáveis, mas não devem aceitar. marco antónio costa é, dentro do executivo, o mais ‘promovível’.

se quiser mexer a sério no governo, passos pode desdobrar a pcm e, até, reforçar paulo portas. o líder do cds, começa a ser visto, mesmo no psd, como um bom vice-primeiro-ministro. nuno melo, vice-presidente dos centristas, sugeria isso mesmo em entrevista ao sol em março.

o cds, por outro lado, ambiciona tutelar a pasta da economia. este ministério poderia conferir ao partido de paulo portas um salto qualitativo e, do ponto de vista de estratégia política, colocaria-o no lado do discurso da esperança e da saída da crise. e, para isso, pode ‘sacrificar’ a ministra da agricultura, assunção cristas.

esta semana, paula teixeira da cruz e paulo macedo desmentiram que tenham pedido para sair do governo, embora seja do conhecimento generalizado que existe bastante desconforto entre os ministros com vítor gaspar, nomeadamente da ala mais ‘esquerdizante’ do governo.

david.dinis@sol.pt e helena.pereira@sol.pt