Agora sem roupa

Não houve cão nem gato do sexo masculino com idade para ter juízo que não tivesse partilhado e retwittado a fotografia daquela que dizem ser Angela Merkel, jovenzinha, com duas amigas, as três a passearem nuas numa praia.

olha mais um que nunca viu, pensava cá para mim, enquanto passava os olhos pelos comentários tolinhos à imagem. a fotografia não tem nada de mal, mas a partilha lembrou-me o velho conselho que se dá a jovens que começam a ter de se impor no mundo adulto: ‘imagina que estão todos nus e assim perdes o medo’. é um conselho que se dá a tímidos crónicos e funciona porque dá logo vontade de rir e descontrai. a lembrança de os outros serem feitos de carne e osso parecidos aos nossos é útil para acabar com as inseguranças. parece estar a acontecer uma coisa parecida com a partilha insistente da merkel nudista, que a esta hora deve estar a pensar: ‘como eu era e como eu estou’. têm tanto medo dela que precisam de a ver assim.

homem branco, etc.

um artigo no washington post de charlotte childress e harriet childress vem pôr a nu diferenças entre homens e mulheres e entre homens brancos e negros, latinos, etc. a autoria dos massacres de columbine, aurora e outros similares tem sido explicada com debates paralelos sobre o controlo de armas ou a existência de doenças mentais. para evitar o elefante na sala, todas as desculpas servem. e o elefante é o facto de estes crimes terem sido perpetrados por homens brancos e jovens. a novidade do texto é circunscrever o homem branco a um grupo. há inúmeras desvantagens em unir pessoas em grupos por género e cor da pele, mas é uma hipótese a considerar nestes casos de violência desenfreada. mulheres perturbadas não entram em escolas para matar crianças e professores. nem negros, nem hispânicos. que discussão teríamos se fossem estes os assassinos em escolas, cinemas e centros comerciais? provavelmente um debate só sobre género e cor de pele.

sobre a inveja

as declarações do ministro das finanças alemão, wolfgang schauble, sobre a alegada inveja dos povos do sul, os alunos fracos, relativamente ao sucesso alemão, os bons alunos, são pobres no conteúdo e devem soar bem aos ouvidos dos alemães. se quisermos ser simpáticos e analisar brevemente este comentário, veremos que não tem nenhum sentido. se é verdade que tem inveja aquele que julga erradamente estar no mesmo plano daquele que é melhor, é também certo que não tem qualquer sentido ter inveja de quem é melhor porque se esforça e consegue atingir os seus objectivos. ser invejoso de quem trabalha é próprio de quem é tolo. schauble insulta assim a dobrar aqueles que neste momento pagam uma crise pela qual não foram responsáveis e que pensam em tudo menos na inventada ‘inveja dos alemães’. inveja de quê? de um povo que há uns meros 70 anos era protagonista de uma das guerras mais abjectas de que há memória? silva peneda foi brando na resposta.

uma nova televisão

li um artigo no the new york times sobre uma nova forma que os pais encontraram para distrair os filhos pequenos enquanto falam com amigos e família à mesa. a solução passa por lhes passar o ipad ou o iphone para as mãos e o sossego é garantido. no artigo de nick bilton, as dúvidas sobre se será a atitude certa são acompanhadas de estudos que alertam para o que é fácil concluir sem fazer qualquer estudo aprofundado sobre o tema: os miúdos ficam ligados à máquina e não interagem com ninguém. os problemas de relacionamento passam não por um isolamento forçado, mas por haver um substituto de pessoa na máquina. a relação está presente e ainda por cima é protegida. depende também naturalmente do que fazem no ipad. as preocupações estão na interacção e não na tecnologia. fazer desenhos num papel também não é aconselhado à mesa, quando há oportunidades de falar com outras pessoas. ainda havemos de ter saudades da televisão.

equipa de pulgas

não é que os demonize, mas esta semana os alemães estão na berlinda. a notícia de um circo de pulgas alemão que sofreu um revés terrível pode ser uma mentira de 1 de abril. até ao momento em que escrevo não houve nenhum desmentido, mas estou certa de que haverá. a notícia na bbc foi cuidadosamente elaborada e divulgada por várias jornais online e conta a terrível história das 300 pulgas artistas que morreram por causa do frio anormal desta primavera e a solução esperançosa dada para o caso. robert birk, dono do circo, chamou um especialista em insectos que logo tratou de treinar mais pulgas porque o espectáculo não pode parar. sessenta novas atletas estariam preparadas para a performance pulgal. a história é credível. um dono de um circo assim só podia ser alemão, que chama um especialista quando há um problema, que o resolve com uma solução prática. acredito em tudo menos no próprio circo de pulgas, que é um conhecido mito urbano.