Crise adiou remodelação do Governo

Passos fechou tudo na noite de quarta-feira, depois de falar com Portas: decidiu que Relvas seria substituído por dois ministros, não havendo condições para ir mais longe, e acertou com a troika as medidas que vão compensar o chumbo do TC. Tudo a tempo de Gaspar voar para Dublin. A crise desencadeada pela decisão do…

pressionado pela urgência da substituição de miguel relvas, o primeiro-ministro entregou ontem ao presidente da república apenas os nomes que substituirão o seu até aqui ministro-adjunto, partindo a pasta em duas. o actual secretário de estado da presidência do conselho de ministros, marques guedes, sobe a ministro da presidência e dos assuntos parlamentares (acumulando ainda a juventude e desporto); e miguel poiares maduro é nomeado ministro-adjunto e do desenvolvimento regional (que terá o novo qren, as autarquias e a comunicação social).

o final do dia de quarta-feira – precisamente, o dia do pico da especulação em torno de possíveis ministeriáveis – foi decisivo. passos e portas reuniram-se em s. bento e aquelas nomeações e o acordo com a troika ficaram fechados.

segundo confirmou o sol, «nos próximos tempos» passos não voltará a mexer no elenco governativo, ficando assim combinada uma remodelação em dois actos. ficará à espera do «mote certo» para desencadear as alterações – que já considera necessárias para abrir uma nova fase da governação.

um ex-ministro do psd justificava ao sol que «há uma lógica sequencial» e que só a partir de maio é que há condições para se fazer uma mudança profunda e que possa trazer um novo fôlego. e até pires de lima (cds), que há duas semanas pedia uma remodelação rápida, veio dizer, na terça-feira, que há tempo «até final do mês».

os nomes dos novos ministros foram, no imediato, recebidos com reservas pelo aparelho do psd, pela ausência de peso político numa altura determinante para a sobrevivência do governo.

desde sexta-feira que a prioridade do primeiro-ministro foi assegurar um acordo em dublin para a extensão, por sete anos, dos prazos de pagamento à ue dos seus empréstimos a portugal. para passos e também para gaspar e portas, se portugal perdesse a oportunidade de um acordo agora, arriscava-se seriamente a ter que pedir um segundo resgate – sobretudo pela imprevisibilidade na zona euro, com países como chipre, grécia e itália. «pode não haver outra oportunidade», acredita fonte do mne (ver texto na página 6).

para convencer os vários países, como a alemanha, que quiseram usar o chumbo do tc como argumento para adiar uma decisão sobre portugal, passos e os dois ministros de estado abriram logo negociações com a troika, para acertar as medidas alternativas.

segundo soube o sol, essas medidas ficaram fechadas na quarta-feira à noite, precisamente antes de gaspar rumar a dublin, para as reuniões do eurogrupo e ecofin. a visita dos técnicos da troika para concluir a sétima revisão será, assim, apenas para terminar a adaptação dos cenários macro-económicos.

o acordo da troika desta semana era essencial, assim, para que gaspar garanta a extensão das maturidades da dívida por sete anos, com o apoio da comissão europeia, o que pode ser confirmado amanhã. segue-se, depois, outro passo difícil: alguns parlamentos, como o bundestag alemão, terão que ratificar o acordo, o que pode demorar meses.

david.dinis@sol.pt e helena.pereira@sol.pt