na missiva já era afirmado que a decisão entratanto confirmada teria o «apoio positivo» das agências de rating e aumentaria a «probabilidade de não ser necessário financiamento adicional aos programas actuais» – o tal segundo resgate. wieser aconselhava, por isto, o prolongamento por sete anos nas maturidades, o que veio a confirmar-se, e salientava já que a aprovação pelo eurogrupo desta proposta seria um «forte sinal» ao exterior de que a europa apoia estes «dois programas bem sucedidos».
gaspar pediu 15 anos
a solução de dar mais tempo para pagar as suas dívidas, além de suavizar os encargos financeiros, é uma forma de «reforçar a barreira» que é necessária ainda construir para proteger a irlanda e, sobretudo, portugal de choques externos. wieser salienta que lisboa e dublin estão «ainda muito vulneráveis a notícias negativas de outros estados-membro», embora estejam a cumprir com sucesso os seus programas. o resgate a chipre e o resultado das eleições italianas foram os exemplos mais recentes de como os juros da dívida ainda sobem «significativamente» nos dois países.
a carta revela ainda que o ministro das finanças de portugal, vítor gaspar, pediu a bruxelas um prolongamento dos prazos da dívida por 15 anos, um valor muito acima dos 5 a 10 anos que o governante afirmou, publicamente, ter requisitado ao eurogrupo.
mas o sucesso do regresso aos mercados de portugal não termina com o alargamento dos prazos da dívida por bruxelas. no relatório feito pela troika, a pedido do eurogrupo e revelado pelo financial times – em que se analisaram os diversos cenários de extensão das maturidades – , os credores externos salientam que portugal detém ainda «um risco substancial de financiamento» no pós-troika, em julho de 2014.
a troika reconhece que lisboa tem conseguido financiar-se nos últimos meses, mas alerta que este sucesso está a ser suportado por especuladores, como fundos de investimento que se aproveitam dos juros elevados da dívida periférica do euro e as garantias que nenhum membro vai sair para investirem com grandes retornos. ou seja, o recente acesso aos mercados «só pode ser considerado como limitado e oportunista», refere a troika.
o fmi e a comissão adiantam ainda que os compradores históricos de dívida pública portuguesa, como fundos de pensões e investidores institucionais, continuam ausentes das emissões feitas por lisboa. o baixo nível do rating soberano e necessidades extra de financiamento para tapar desvios orçamentais, ou buracos nas empresas públicas, estão entre os maiores riscos para um acesso pleno e constante de portugal aos mercados.
também a troika, partilha da opinião do cef: «portugal permanece vulnerável a desenvolvimentos políticos e financeiros em outros estados-membro e a adiar o acesso completo aos mercados».
horas antes de partir para dublin, o ministro das finanças declarava que iria procurar «mobilizar apoio oficial para o processo de regresso pleno ao mercado de obrigações por parte da república portuguesa», frisando que «em tudo isto beneficiarei do apoio do governador do banco de portugal».
*com david.dinis@sol.pt