dezoito anos após a guerra pela independência, a croácia enfrenta o pior momento em tempo de paz. a recessão que dura há cinco anos destruiu 10% da riqueza nacional do país (um quarto da portuguesa) e o desemprego ultrapassou recentemente a fasquia dos 20% (50% entre os jovens). com um mercado doméstico pequeno (4 milhões de habitantes) e uma indústria pouco internacionalizada, os croatas têm pouco espaço para dar a volta.
consequentemente, as finanças de zagreb estão no vermelho. a dívida pública está agora além dos críticos 60% do pib e o défice orçamental desde ano roçará os 5%. de resto, bruxelas já avisou que deverá abrir um procedimento por défice excessivo logo após a adesão. a entrada na zona euro é por isso «altamente improvável antes de 2020», referem os analistas do deutsche bank.
líderes na corrupção
aos problemas económicos e financeiros somam-se outros desafios. a croácia é vista por consultoras como a ernst & young e organizações como a transparência internacional como um dos países mais corruptos da europa. em novembro, o antigo primeiro-ministro conservador ivo sanader, um dos principais responsáveis pela adesão da croácia à ue, foi condenado a dez anos de prisão por receber subornos de empresas estrangeiras. o veredicto foi aplaudido como um suposto exemplo da independência do poder judicial, mas o sinuoso curso daquele processo é também referido como um sintoma da interferência do poder político.
não há por isso um ambiente de festa na comissão europeia para lá das bandeiras e painéis brancos e vermelhos que enfeitam por estes dias o edifício berlaymont em bruxelas. entre os croatas, o entusiasmo também é mínimo. segundo sondagens recentes, cerca de 60% apoiam a adesão à ue, mas menos de metade (49%) acreditam que o país beneficiará da entrada no clube.
as entrevistas de rua para a imprensa internacional reforçam um quadro de pessimismo. o cidadão comum croata teme o aumento do custo de vida e a degradação das condições laborais devido à concorrência dos futuros parceiros europeus. os agricultores receiam os apertados regulamentos de bruxelas e os pescadores estão nervosos com a iminente abertura das águas croatas à mais sofisticada frota italiana.
os por estes dias raros optimistas apontam um expectável aumento do investimento estrangeiro na croácia e a chegada de fundos comunitários para as regiões mais deprimidas e devastadas pela guerra jugoslava – à cabeça, as cidades orientais de vukovar e osijek. para os mais jovens, a grande expectativa é a de um melhor acesso a mercados de trabalho como o austríaco e o alemão. o passo seguinte, espera zagreb, será a adesão ao espaço schengen, mas também aqui bruxelas e as principais capitais europeias levantam reservas. teme-se a incapacidade das forças croatas para travar os tráficos de todo o tipo que entram no país através das fronteiras com a bósnia e a sérvia, enquanto áustria, alemanha e o véneto italiano (que tem escapado à crise do resto do país) receiam a chegada em massa de imigrantes.
desunião europeia
de expectativas contraditórias vivem também os restantes europeus. esta semana, bruxelas recomendou a abertura de negociações de adesão com a sérvia, depois de belgrado ter concluído recentemente um acordo de normalização de relações com a antiga província do kosovo, unilateralmente declarada independente em 2008. já a islândia anunciou este mês que não irá prosseguir com a candidatura após a recente vitória eleitoral da direita eurocéptica. quanto à turquia, aprofunda-se o fosso entre ancara e berlim (ver texto ao lado).
dentro do clube, o governo holandês de mark rutte pediu na semana passada mais soberania e menos bruxelas, em linha com o britânico david cameron, que propôs um referendo à permanência na ue em 2017. e entre a comissão e paris agrava-se o diferendo em torno da exigência francesa de excluir o sector audiovisual e cultural gaulês do futuro acordo de comércio livre com os estados unidos. durão barroso considerou a reivindicação «reaccionária». esta semana, o ministro francês da indústria arnaud montebourg respondeu dizendo que o português «é o combustível da frente nacional» por associar qualquer reserva à globalização a ideologias extremistas.