Santana Lopes: ‘A culpa não foi só de Portas’

Pedro Santana Lopes estava crente que Passos e Portas tivessem aprendido a lição. E que o novo Governo seria melhor. Mas a implosão na maioria deu legitimidade ao PR.

acreditou na solução, a remodelação, que passos e portas encontraram para este governo?

acreditei. a semana passada foi muito dura e teve consequências políticas que não devem ser ignoradas. nessa medida, o presidente não pode ser responsabilizado. deparou-se com uma situação muito grave. mas o presidente alimentou expectativas, ao ter recebido em belém o primeiro-ministro na quinta-feira, ao ter permitido que ele lá voltasse na sexta-feira e ao tê-lo deixado falar ao país no sábado. o presidente podia ter pedido ao primeiro-ministro para não dizer nada. criou-se uma expectativa no país de que a solução da remodelação seria aceite. quarta-feira, o presidente lançou uma granada para o meio do sistema partidário. eu acreditava que passos coelho e paulo portas estavam a construir uma boa solução. pode dizer-se que veio tarde de mais, mas o que eles acordaram, pelo que sei, era um bom caminho.

acreditou que era possível repor a confiança mútua?

estava convencido de que ambos iriam retirar ensinamentos do que tinha acontecido.

e acha que ainda é possível o psd acreditar em portas?

houve ali culpas de parte a parte. não houve só culpas de paulo portas naquela semana muito triste.

aproveitando o discurso de cavaco, poderá haver um movimento dentro do psd para afastar pedro passos coelho da liderança do partido?

não tenho nenhuns sinais disso. agora, é um conjunto muito complexo. o psd está numa situação nada fácil para as eleições autárquicas e o primeiro-ministro tem-se dedicado muito ao governo e pouco ao partido.

o psd ainda está com passos?

ainda está, mas está muito preocupado.

face àquilo que o então presidente jorge sampaio fez ao seu governo, o que agora cavaco fez com este governo é pior ou melhor?

ambas são situações anómalas do ponto de vista constitucional. mas, apesar de tudo, as situações não são comparáveis. eu estava a entrar no governo numa situação excepcional – não eleito mas com uma maioria no parlamento. agora, nesta situação, houve sinais de implosão na maioria e isso deu alguma legitimidade ao presidente para actuar.

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