a croácia é meio mundo em cerca de 50 mil quilómetros quadrados, cerca de metade do tamanho de portugal num território em forma de ‘l’ invertido, entre a eslovénia, a sérvia, a bósnia e o montenegro, com a itália do outro lado da ‘rua’ adriática, servindo de morada a pouco mais de quatro milhões de pessoas.
para além da riqueza natural e cultural, é uma potência desportiva. tem tantas medalhas olímpicas quanto portugal (23) em apenas seis participações nos jogos, a oitava selecção de futebol mais cotada no ranking da fifa (que foi terceira em 1999) e uma crescente galeria de heróis nacionais: goran ivanisevic no ténis, blanka vlasic no salto em altura ou janica kostelic no ski, entre tantos outros.
e, caso não tenha reparado, a croácia anda diariamente ao pescoço de boa parte da população mundial masculina. a gravata é uma antiga invenção croata, sendo que povo e adereço chegaram a partilhar o mesmo nome durante boa parte do renascimento.
provenientes da actual polónia, os croatas chegaram à antiga província romana da dalmácia por volta do século vii. o seu primeiro reino sobreviveu dois séculos, mas o território seria disputado por venezianos, húngaros e otomanos até à incorporação no império habsburgo. no final da primeira guerra mundial, os croatas juntaram-se ao recém-criado reino dos sérvios, croatas e eslovenos, a futura jugoslávia. o casamento entre vizinhos não foi feliz. o centralismo sérvio conheceu uma forte oposição dos nacionalistas croatas, que sob ocupação alemã durante a segunda guerra mundial proclamariam um estado fascista. a entidade seria responsável pela morte de meio milhão de sérvios, judeus e ciganos.
filho de pai croata e de mãe eslovena, o marechal josip broz tito lideraria a resistência comunista jugoslava até à vitória. com o apoio inicial dos aliados ocidentais e da união soviética, a jugoslávia federal de tito une os povos desavindos dos balcãs. a sua morte em 1980 é o tiro de partida para uma nova fase nacionalista. o populista sérvio slobodan milosevic torna a centralizar o poder em belgrado e provoca uma reacção inflamada das restantes etnias.
tal como a eslovénia e a macedónia, a croácia volta a proclamar a independência em 1991, após um referendo ter dado um apoio esmagador dos eleitores ao projecto secessionista. a reacção da minoria sérvia da croácia é hostil e o exército federal jugoslavo intervém no território. ao longo de quase cinco anos, até novembro de 1995, mais de 20 mil pessoas morrem no conflito e meio milhão são forçadas a deixar as suas casas. a cidade-pérola do adriático, dubrovnik, é seriamente danificada.
paga com sangue a independência, a croácia foi liderada até 1999 pelo nacionalista autoritário franjo tudjman. mas o 28.º estado-membro da união europeia é hoje um país plenamente democrático. as tensões étnicas abandonaram o campo político e estão agora sobretudo associadas a fenómenos minoritários de hooliganismo desportivo. os desafios actuais são de outra ordem. fortemente dependente do turismo, a economia sofreu um rombo com a crise internacional de 2008. a recessão dura há cinco anos e o desemprego afecta um em cada cinco croatas. as finanças de zagreb também estão no vermelho e bruxelas puxa já as orelhas ao novo estado-membro por défice excessivo.
sedenta de investimento, a croácia luta ainda contra o peso de ser vista como um dos países mais corruptos da europa, segundo a ernst & young e a transparência internacional. em novembro, o antigo primeiro-ministro conservador ivo sanader foi condenado a dez anos de prisão por receber subornos de empresas estrangeiras.
apesar de europeístas, os croatas estão por isso pouco optimistas em relação ao seu futuro imediato. temem a inflação, a degradação das condições laborais e a concorrência económica dos parceiros comunitários – sobretudo na pesca e na agricultura. mas também há quem espere, com razão, a chegada de mais turistas. por fim, os jovens croatas aguardam com expectativa a adesão ao espaço schengen. tanto para retribuir um número crescente de visitas, como para conquistar um desejado posto de trabalho.