o governo não quer deitar os foguetes antes da festa. mas esta noite, quando fizer o seu discurso da rentrée, de volta ao calçadão do pontal, passos coelho quer valorizar um trunfo inesperado para a campanha das autárquicas: ao fim de dois anos de governação, a economia deu sinais de vida: cresceu 1,1% no segundo trimestre.
em s. bento, a recuperação era esperada, mas não assim. quando há um mês a universidade católica a estimou em 0,6%, alguns membros do gabinete do primeiro-ministro temeram pelas expectativas demasiado altas. agora, face aos 1,1% oficiais, alguns nem resistiram a regressar às suas páginas do facebook para disparar sobre as reacções cépticas da oposição.
politicamente, a ordem no governo é para manter a prudência. está viva na memória a promessa de passos, precisamente há um ano, de que a estabilização da economia viria em 2013. as críticas foram veementes. agora, o melhor é não abusar da sorte, ouve-se em s. bento. até porque vem aí mais um orçamento duro e não é possível prometer muito.
o mais longe que se vai dentro do governo é lembrar que nos últimos três meses ninguém mais falou de uma «espiral recessiva». a inversão do segundo trimestre prova, alega-se no executivo, que as duas flexibilizações das metas conseguidas com a troika chegaram para travar a queda da economia, mantendo ainda assim o esforço de consolidação.
a retoma, porém, é mesmo esperada no governo. mas não de uma forma linear. as dificuldades no acesso ao crédito, a imprevisibilidade da conjuntura externa e as medidas do próximo oe levam passos e a sua equipa a esperar uma recuperação «aos solavancos», com altos e baixos nos próximos trimestres. mas a caminho de uma estabilização em 2014.
os dados divulgados pelo ine esta semana poderão ter sido um dos pontos altos desta retoma. a economia registou um crescimento de 1,1% face ao trimestre anterior, a primeira expansão do pib após dez trimestres consecutivos de contracção e uma subida que foi quase quatro vezes superior à media da zona euro ( 0,3%).
uma queda menor no investimento, nomeadamente no sector da construção, e a «aceleração expressiva» das exportações foram os factores decisivos para este crescimento, referiu o ine.
porém, o crescimento da economia portuguesa está ‘empolado’ pelo efeito de calendário, em concreto a realização este ano da páscoa no trimestre anterior. a época pascal é um período de menor actividade económica em portugal, sobretudo ao nível do comércio externo, o que acabou por favorecer as contas do segundo trimestre.
vários economistas referiram ao sol recentemente que a performance do segundo trimestre poderá ser mais a excepção do que a regra no andamento da economia até ao final do ano. entre os especialistas a prudência é também palavra de ordem.
umas férias tranquilas
a expectativa no executivo de que o pior esteja já a passar tem também componentes menos científicas. como a que resulta dos quinze dias de férias que passos tirou no local do costume – na manta rota, algarve. ao contrário do que aconteceu há um ano, o primeiro-ministro conseguiu manter-se mais longe dos jornalistas e sobretudo dos protestos.
o único movimento que apareceu à sua porta tinha uma dúzia de pessoas. os ânimos nem chegaram a aquecer. foi o suficiente para o psd anunciar o regresso ao pontal, abandonando o modelo de 2012, em que a rentrée do partido se fez no aquashow, um recinto fechado – e portanto de acesso mais controlado do público. ao seu lado estarão pelo menos quatro ministros.