o caso remonta a 1987 e a 1988, na recta final do conflito entre o irão e o iraque. na altura, imagens de satélite obtidas pelos eua permitiram identificar uma grande concentração de meios militares iranianos junto à fronteira iraquiana, a poucos quilómetros de baçorá. reagan, presidente à data, ficou alarmado com a possibilidade de uma ofensiva iraniana em larga escala e decidiu partilhar a informação com bagdade. “uma vitória iraniana é inaceitável”, escreveu o chefe de estado nas margens de um memorando visto pela publicação. em abril de 1988, as forças de saddam atacaram a zona e lançaram agentes químicos quatro vezes, provocando um elevado número de baixas.
“os iraquianos nunca nos disseram que iam utilizar gás de nervos. nem precisavam. nós já sabíamos que iam fazê-lo”, disse à revista rick francona, coronel na reserva da força aérea e adido militar em bagdade à data dos factos. desde 1983, aliás, que washington tinha conhecimento do programa iraquiano de armas químicas e sabia que saddam não tinha quaisquer reservas em relação ao recurso àquele arsenal, revelam os documentos da cia.
o ataque ocorreu poucas semanas depois do massacre de cerca de cinco mil civis curdos no iraque e cinco anos antes da celebração da convenção sobre armas químicas que proibiu a produção, armazenamento e uso destes recursos bélicos de destruição em massa.
apoio ao golpe de 1953
outros documentos da cia recentemente tornados públicos estão na origem da decisão iraniana, tomada na quarta-feira, de levar os eua à justiça internacional. neste caso, pelo envolvimento norte-americano no golpe que em 1953 derrubou o governo democraticamente eleito de mohammed mossadegh e restaurou o regime ditatorial do xá reza pahlevi.
com 167 votos a favor e cinco contra, o parlamento iraniano decidiu constituir uma comissão que irá redigir um relatório para apresentar nas instâncias internacionais. os deputados que votaram contra a proposta justificam a oposição com a reduzida probabilidade de ver os eua serem condenados.
num documento norte-americano revelado no início do mês, é dito que “o golpe militar que derrubou mossadegh foi executado sob as ordens da cia como um acto de política externa dos eua, concebido e aprovado pelas mais altas instâncias do governo”.
o xá seria deposto na revolução iraniana de 1979, que colocaria no poder a actual estrutura teocrática. o monarca, que faleceu em 1980, passou parte dos seus últimos meses de vida nos eua, que negaram um pedido de extradição da justiça iraniana. a recusa, que levou à invasão da embaixada dos eua em teerão por jovens islamistas, esteve na origem do corte de relações diplomáticas entre os dois países – que se mantém até hoje.
actualmente, as duas capitais arrastam um diferendo sobre o programa nuclear iraniano. teerão argumenta que o projecto tem fins exclusivamente civis, enquanto washington, israel e os aliados europeus temem possíveis objectivos militares.
em junho, o irão rompeu com uma década de retórica hostil liderada pelo populista mahmoud ahmadinejad e elegeu um conservador moderado para a presidência. hassan rohani prometeu trabalhar para o restabelecimento da confiança entre os dois países. porém, o agravamento da crise síria e a divulgação dos documentos da cia vêm reduzir as expectativas em torno de uma normalização das relações diplomáticas.