Deslize na recta da meta alemã

Os últimos desenvolvimentos da crise síria permitiram a Berlim, tendencialmente contrária a uma acção militar, respirar de alívio, mas não a tempo de poupar a chanceler germânica Angela Merkel a um constrangimento diplomático prontamente transformado em arma de campanha pela oposição de esquerda.

 durante a cimeira do g20 em são petersburgo, a alemanha ficou isolada no bloco ocidental na defesa de uma solução política para a nova crise do médio oriente. reino unido, frança, itália e espanha subscreveram prontamente uma declaração conjunta à margem da reunião a exigir uma “resposta internacional forte” às suspeitas de uso de armas químicas pelo regime de bashar al-assad. no dia seguinte, e em nome dos laços transatlânticos com washington, merkel viu-se forçada a apoiar a declaração.

o líder do spd sigmar gabriel qualificou a cedência como “um completo apagão da política externa alemã” e o incidente poderá custar votos à cdu conservadora num país ainda desconfortável com o passado militarista.

no entanto, e segundo as últimas sondagens divulgadas pela der spiegel e o bild, merkel mantém-se claramente à frente com cerca de 40% das intenções de voto, enquanto a oposição de centro-esquerda do spd não vai além dos 28%. no entanto, a grande questão coloca-se em relação à obtenção de uma maioria para governar. o aliado natural da cdu, os liberais do fdp, lutam para se manterem à tona dos 5%, o limiar a partir do qual os partidos germânicos têm direito a representação parlamentar. no pior dos cenários admitidos pelas sondagens, o parceiro de coligação de merkel fica mesmo fora do bundestag.

à esquerda, a maioria não se prevê mais fácil. verdes e die linke somam um total de 20% das intenções de voto, mas os dirigentes sociais-democratas e ecologistas continuam a reafirmar a indisponibilidade para uma coligação com os pós-comunistas. não é por isso de excluir uma grande coligação entre a cdu e o spd como a que merkel liderou, com gerhard schröder, de 2005 a 2009.

pedro.guerreiro@sol.pt