Ataque a Nairobi: Caça à Viúva Branca

Terá o sangrento ataque ao centro comercial de Nairobi sido liderado por uma jovem mãe britânica convertida ao islamismo? A Interpol emitiu um mandado de captura internacional contra Samantha Lewthwaite, a viúva de um dos bombistas que se detonaram em Londres em 2005

perfil racial. o termo, uma tradução possível do inglês racial profiling, dá nome à prática das forças de segurança ocidentais de abordarem pessoas cuja aparência étnica seja habitualmente associada a certos tipos de actividades ilícitas. o método não é oficialmente assumido pelas polícias devido ao seu carácter discriminatório, mas é sabido que um homem negro ou árabe tem uma probabilidade muito maior de ser parado por um agente na via pública ou num aeroporto do que uma mulher branca.

condenada por cidadãos e movimentos civis, esta prática é também cada vez mais desafiada pela realidade. um mandado de captura emitido na semana passada pela interpol veio demonstrar como o terrorismo islâmico está longe de ser um flagelo exclusivamente árabe e masculino. samantha lewthwaite é o nome da nova mulher mais procurada do mundo. britânica, branca, de 29 anos, a imagem não encaixa no estereótipo sugerido pelas acusações de que é alvo: posse de explosivos e planeamento de atentados. a imprensa chama-lhe viúva branca.

os factos remontam a 2013 mas não terá sido coincidência que a interpol tenha emitido o alerta vermelho na mesma semana em que o centro comercial westgate em nairobi, no quénia, foi tomado por um comando do al-shabab, um movimento somali com ligações à al-qaeda. apesar dos contornos do sequestro que vitimou pelo menos 72 pessoas ainda não estarem totalmente apurados, as autoridades acreditam que samantha poderá ter estado envolvida ou mesmo liderado o ataque. inicialmente, disse-se que a britânica teria sido abatida, mas admite-se que a islamista terá escapado entre as vítimas, cobrindo a face de sangue e declarando ser uma refém em fuga.

da irlanda do norte para áfrica

nascida na irlanda do norte em 1983, samantha é filha única de um soldado inglês e de uma civil católica. descrita como inteligente mas tímida, é recordada pelos antigos colegas de escola como uma menina popular e bem-sucedida. no entanto, aos 11 anos, o divórcio dos pais marcou um antes e um depois na vida de samantha. em aylesbury, na inglaterra, para onde os pais se tinham mudado, a adolescente procura nas ruas a família que deixou de ter em casa. encontra-a na vizinhança, predominantemente habitada por imigrantes, nos pais dos seus amigos muçulmanos. na escola, as discussões na sala de aula denunciam uma transformação: se antes era uma fã de margaret tatcher, passou a ser uma acérrima crítica do ocidente. aos 17 anos, converteu-se ao islão.

em 2002, no turbulento período pós-11 de setembro, a britânica conhece através da internet outro jovem convertido, germaine lindsay. têm o primeiro encontro numa manifestação contra a guerra em pleno hyde park, apaixonam-se e casam pouco tempo depois.

o que poderia ter sido apenas uma história feliz de multiculturalidade ganha contornos sangrentos a 7 de julho de 2005. lindsay é um dos quatro bombistas que se fazem detonar no metropolitano e num autocarro, em hora de ponta, em londres. a jovem viúva, então grávida do segundo filho, nega qualquer envolvimento nos atentados. “condeno totalmente estas atrocidades e sinto-me horrorizada”, declara à imprensa.

a polícia britânica ofereceu protecção à viúva e acompanhou-a de perto mas, a dado momento, perdeu-lhe o rasto. desde então, samantha voltou a casar com outro extremista. a partir de 2007, samantha visita áfrica frequentemente e as autoridades quenianas admitem em 2012 que a britânica se tornou numa figura de relevo da al-qaeda, agindo como recrutadora, planeadora e angariadora de fundos. é acusada de envolvimento no atentado contra um bar em mombaça, no quénia, em 2012, durante a transmissão de um jogo do euro 2012, o inglaterra-itália, que fez três mortos.

apesar de raro, a jihad feminina e branca de samatha encontra precedentes recentes. em 2005, uma padeira belga da cidade de charleroi fez-se explodir no iraque contra uma coluna militar norte-americana. muriel degauque era o nome da bombista de 38 anos, que se tinha convertido ao islamismo depois de casar com um muçulmano. em 2009, a norte-americana colleen larose, também convertida ao islão, foi detida quando planeava o assassínio do cartoonista sueco lars vilks, autor de caricaturas do profeta maomé.

pedro.guerreiro@sol.pt