China aproveita crise para marcar pontos

Uma das principais vítimas da última crise política em Washington foi a diplomacia norte-americana. Na semana passada, e na busca vã por um acordo com os republicanos, Barack Obama falhou uma visita de Estado de seis dias à Ásia, continente prioritário para a Casa Branca. Teria sido uma ocasião para o Presidente dos EUA avançar…

ausente da cimeira da apec (cooperação económica ásia-pacífico), obama foi ultrapassado pelo primeiro-ministro chinês li keqiang, que aproveitou aquele fórum em bali e o encontro da asean (associação das nações do sudeste asiático) no brunei para vender a resposta de pequim ao ptp – a parceria económica regional abrangente, um mercado comum proposto para os países da asean e seis outras nações (austrália, nova zelândia, japão, coreia do sul, índia e a própria china). de fora do plano chinês ficam os eua, que da mesma forma excluem a china da ptp.

cresce assim o confronto entre duas propostas com objectivos económicos e políticos distintos. os eua tentam que a ptp estabeleça um quadro legal para o livre comércio no pacífico, travando o que entendem ser a concorrência selvagem chinesa. pequim, por seu lado, quer que a sua parceria abrangente aprofunde a integração económica das nações asiáticas em torno do pólo chinês. os norte-americanos acenam aos parceiros com um acesso privilegiado aos seus consumidores, enquanto os chineses prometem investimentos bilionários em infra-estruturas.

ofensiva frustrada

em 2011, através de um artigo da então secretária de estado hillary clinton na foreign policy, a administração obama proclamou que o século xxi era “o século da américa no pacífico”. desde então, washington intensificou a actividade diplomática no oriente, com obama, hillary e agora john kerry a marcarem presença nas principais cimeiras asiáticas e com a reabilitação de relações com países como a birmânia.

o investimento político teve paralelo militar: uma intensa deslocação de meios para a região, a consolidação de singapura como base norte-americana no sudeste asiático, o acordo para a colocação de 2.500 fuzileiros no norte da austrália, o planeado regresso do exército dos eua às filipinas. ao mesmo tempo, washington reiterou compromissos com tóquio, seul e taipé.

este investimento militar é bem-vindo pelos aliados regionais de washington, que temem o expansionismo chinês. nos últimos anos, multiplicaram-se os incidentes entre as forças navais de pequim, tóquio, manila e hanói. em causa está o controlo do mar do sul da china e do mar da china oriental, vias estratégicas que poderão esconder importantes reservas de petróleo e gás.

no entanto, washington não tem tido tempo para se dedicar a esta frente. ainda antes do desafio republicano que paralisou o governo, obama viu os seus planos orientais serem ultrapassados por sucessivas emergências no médio oriente. a luta contra a al-qaeda continuar a congregar todos os esforços do pentágono – ali, em áfrica e na fronteira afegano-paquistanesa. e o irão sobe novamente na agenda.

dúvidas restassem sobre as prioridades externas dos eua em 2013, estas foram dissipadas com o recente discurso de obama na assembleia geral das nações unidas, em setembro. na intervenção de 40 minutos, e segundo contas da time, o líder dos eua mencionou a síria, o egipto, o irão e israel 68 vezes. a ásia só mereceu duas referências: uma para a china e outra para a coreia do norte.

pedro.guerreiro@sol.pt