Segundo resgate é cenário mais provável

Esta semana, o Merril Lynch – prestigiado banco de investidores americano – publicou um estudo sobre as probabilidades de Portugal após o fim do programa de assistência financeira. Resultado: 45% para um novo resgate de três anos; 39% para um cautelar (de um ano, prorrogável); 1% para uma saída livre; e 15% para um corte…

em s. bento a fé num quadro mais optimista é relativa: “há mais hipóteses de um cautelar do que de novo resgate”, afirma um governante próximo de passos coelho. a conclusão é, de todo o modo, semelhante: até se saber o que será, portugal terá muito para provar. e seja qual for a solução, terá sempre um novo programa de medidas obrigatórias.

mesmo assim, no núcleo duro do executivo, a expectativa é a que pires de lima exteriorizou: aproveitar a 11.ª revisão prevista para fevereiro para lançar a discussão com os credores.

a conversa já começou informalmente: o primeiro dossiê sobre as saídas possíveis circulou há oito meses. na ronda pelos líderes da troika, paulo portas e maria luís albuquerque sinalizaram que estariam atentos ao caminho da irlanda.

mas há muitos obstáculos no caminho de portugal. o primeiro é o da confiança dos investidores no país. o fecho positivo da última avaliação e a apresentação do orçamento só permitiram baixar os juros a 10 anos dos 6,5% para os 6,2%. “com juros a 6% nem vale a pena falar em cautelar”, diz um responsável europeu, acrescentando que “até falar num cautelar é contraproducente para o governo”, que deve estar concentrado em mostrar determinação nas medidas e revelar coesão interna e resultados na economia.

“a própria conclusão do memorando vai gerar confiança”, acredita um ministro – lembrando o discurso de passos esta semana na assembleia, que pôs o acento tónico no cumprimento do programa actual.

mas é aqui que encaixa o outro obstáculo: as decisões do tribunal constitucional sobre os cortes nas pensões do sistema público e dos salários no estado. o primeiro acórdão é esperado para o início de dezembro (se o presidente fizer o que todos esperam, uma fiscalização preventiva da lei). a segunda só deve chegar em abril, porque cavaco silva deixou claro que prefere deixar o orçamento entrar em vigor e só depois pedirá ao tc para se pronunciar. o calendário deixa uma incógnita no ar: a troika estará disposta a falar de um cautelar sem saber o que diz o tc? talvez, diz um outro ministro: “se a cga passar, pode ser já indicativo do que acontecerá nas tabelas salariais”.

síndrome de estocolmo

o problema é se as medidas chumbam. nas conversas de bastidores, o medo de que isso leve a um segundo resgate – um falhanço do governo, do ponto de vista político – está muito presente. nos círculos próximos de passos há quem admita que a troika não dará por concluído o programa em curso sem medidas estruturais como estas.

à pergunta sobre se bruxelas não fará tudo para mostrar lisboa como mais um caso de sucesso, a resposta é negativa: “o único cenário que a europa não quer mesmo é uma reestruturação da dívida”, acredita uma fonte das finanças.

nas instituições europeias a cautela é, por tudo isto, enorme sobre quando se tomarão decisões. se o timing for igual para portugal, só em abril/maio haverá conversas sobre o tema. até porque nessa altura o desenho de um programa cautelar já pode estar pronto, por via da irlanda.

mas o caso de dublin pode ainda ser um problema político para passos coelho. se os irlandeses conseguirem escapar até a um cautelar, portugal ficará exposto como um caso único – mesmo que melhor do que a grécia, que está no segundo resgate.

o governo português não acredita nisso: “nestes programas de assistência há uma espécie de síndrome de estocolmo” (as vítimas que não conseguem libertar-se do sequestrador e procuram ter a sua simpatia).

a esperança secreta é, portanto, que exista um cautelar para os dois países. mesmo que a irlanda tenha um novo memorando menos duro que o de portugal.

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