O Natal de Maduro e a grave crise na Venezuela

Estranhos, iluminados e polvilhados de neve artificial são os caminhos da revolução. Esta semana, o Presidente venezuelano Nicolás Maduro decretou a antecipação das festividades natalícias em quase dois meses. “Fazemos o Natal mais cedo porque a felicidade, a natividade e a chegada de Jesus são o melhor remédio”, declarou o sucessor de Hugo Chávez.

remédio para animar os venezuelanos, crescentemente críticos da condução dos destinos do país, e para debelar a grave crise económica em que caracas está mergulhada. na prática, e no que verdadeiramente interessa, a antecipação das festas traduz-se no pagamento este mês de dois terços do subsídio de natal.

este foi apenas um dos mais recentes e insólitos gestos de maduro para tentar herdar o enorme capital de simpatia de chávez, falecido em março. em outubro, e para enquadrar esse esforço, o presidente criou o ministério da felicidade suprema. esta semana, declarou que o dia 8 de dezembro passa a ser o “dia da lealdade e do amor ao comandante supremo hugo chávez”. isto depois de ter afirmado que a imagem do desaparecido líder tinha aparecido, qual virgem maria, nas obras do metro de caracas.

ainda que sentido, o culto tem fins políticos. não será coincidência que 8 de dezembro seja dia de eleições municipais e de novo teste à solidez do regime.

esta solidez é ameaçada pela economia, onde maduro diz estar em curso uma “guerra” movida pela “burguesia parasita”. a escassez de alimentos nos supermercados, crónica nos últimos anos, agravou-se. a crise será provocada pelo facto de o estado, que controla a distribuição de bens, ter dívidas aos fornecedores. no entanto, maduro acusa a “elite” de armazenar bens para provocar a escassez. esta semana, o governo anunciou que vai criar uma força militarizada para combater o suposto fenómeno, e maduro procura agora poderes reforçados face a um parlamento onde já goza de maioria absoluta.

a inflação está próxima dos 50%. no mercado negro, o bolívar venezuelano é trocado pelo dólar a uma taxa de câmbio nove vezes maior que a oficial. na saúde, os transplantes estão suspensos e 70% das máquinas de radioterapia estão paradas. e repetem-se as falhas de energia.

os problemas económicos ameaçam as relações com os aliados. o governo de brasília enviou na semana passada uma delegação a caracas para discutir o pagamento de um enorme volume de dívidas do estado venezuelano a empresas brasileiras, sobretudo do sector agro-alimentar. o panamá fez o mesmo em julho.

só em relação a um país soube a venezuela encontrar uma saída para o calote – mas com prejuízo para o credor. na semana passada, caracas expropriou dois poços de petróleo da empresa superior energy services, dos estados unidos, à qual a petrolífera estatal pdvsa não paga desde dezembro de 2012.

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pedro.guerreiro@sol.pt