PS insiste em eleições

A assinatura do PS num programa cautelar implica a realização prévia de eleições legislativas. Depois da disponibilidade manifestada por António José Seguro para falar com o Governo, vem o esclarecimento: negociar não implica assinar.

“o cautelar implica novas medidas de austeridade. pode dizer-se que não é o ps, é o eleitorado português que não poderá aceitar mais austeridade sem esta ser legitimada nas urnas”, diz ao sol o secretário nacional do ps, álvaro beleza.

as condições para aceitar subscrever um programa cautelar para o período pós-resgate foram alvo de análise na reunião desta semana do secretariado. o ps acolhe os apelos que têm chegado, da presidência da república à união europeia, para um entendimento politicamente alargado que robusteça a posição de portugal no regresso aos mercados. mas recusa-se a ficar na fotografia de um acordo que traga mais austeridade.

a irlanda como exemplo

a pretensão socialista foi reafirmada ontem, aproveitando as notícias sobre a irlanda – país que fez saber que não precisa de um programa cautelar no pós-troika.

o dirigente eurico brilhante dias reclamou o mesmo desfecho para portugal. “se o governo tiver de negociar um novo pacote, não me parece que tenha reunidas as condições para o fazer em nome do país”, disse este responsável do ps.

fica assim esclarecido que o ps não cede, depois de algumas reacções que anteviam uma mudança de posição. no domingo, marcelo rebelo de sousa saudou a entrevista de antónio josé seguro à tvi, há oito dias, como o “acontecimento da semana”, por o líder socialista ter deixado perceber que estaria disposto a entender-se com o governo. “não virarei as costas ao meu país e o ps estará lá com soluções”, declarou seguro.

o líder socialista precisou que não dará “cheques em branco”, nem “se insistirem com um programa da mesma natureza”, ou seja, com mais austeridade. seguro pareceu ter desvalorizado a exigência de eleições: “se o ps tivesse essa prioridade, teria agarrado essa oportunidade”, disse na entrevista, referindo-se ao ‘acordo de salvação nacional’ negociado em julho.

mas veio depois o fundamental: sobre o pedido de eleições antecipadas, disse “que o ps não muda de opinião”. e, questionado sobre eleições antecipadas em simultâneo com as europeias, em maio, afirmou: “é vantajoso”.

o executivo, por seu lado, não quer ouvir falar em eleições antecipadas. “se há coisa que gera incerteza lá fora é falar-se em eleições”, explica ao sol um membro do governo.

o ministro da presidência, marques guedes, afastou de todo, aliás, a possibilidade acenada pelo ps de trocar eleições legislativas antecipadas por uma assinatura no cautelar, dizendo que este programa dispensa o seu acordo.

“não comportará nenhum auxílio financeiro e, não comportando nenhum auxílio financeiro, a exigência de um compromisso alargado político, como foi feito aquando do resgate em 2011, provavelmente não se colocará” – explicou ontem, no final do conselho de ministros.

diálogo com parceiros sociais

esta semana, prosseguiram os contactos entre psd e parceiros sociais em torno da reforma do estado e passos coelho foi à concertação social pela primeira vez. a boa vontade evidenciada pelo anúncio de que defende um aumento do salário mínimo nacional deixou desconfiadas, no entanto, as centrais sindicais, para mais numa altura em que se sabe que o fmi quer forçar uma nova flexibilização salarial.

“há posições de grande hipocrisia e cinismo sobre o salário mínimo nacional”, diz o secretário-geral da cgtp ao sol. após a reunião de passos coelho com os parceiros sociais, arménio carlos mostra-se desconfiado: “a intenção de discutir o salário mínimo em 2015 parece trazer escondida a intenção de fazer dele uma moeda de troca”.

a estratégia do governo é pressionar também o ps a aproximar-se em algumas áreas. por enquanto, apenas a reforma do irc (em que os socialistas se abstiveram na votação na generalidade) pode trazer pontos de contacto.

o presidente da república, que lançou o repto para o diálogo entre as várias forças políticas, acompanha os esforços. pelo menos, já há tentativas de conciliação em vários tabuleiros, o que há seis meses estava longe de acontecer, nota-se em belém.

helena.pereira@sol.pt e manuel.a.magalhaes@sol.pt