CDS: tensão pré-congresso

Paulo Portas já adiou por duas vezes o congresso, mas nem à terceira conseguiu evitar os problemas. No segundo fim-de-semana de Janeiro (dias 11 e 12), em Oliveira do Bairro, haverá de tudo um pouco: tensão com o PSD, temas tabu, críticas internas (veementes) e nova austeridade – decretada para fazer face ao novo chumbo…

a tensão com o psd renasceu da entrevista de passos coelho à tvi e tsf. o líder social-democrata disse ver como “normal” uma coligação nas legislativas de 2015. “a semanas dos congressos dos partidos, ele reabre esse dossiê para quê? é inacreditável”, dizia um influente membro do partido. a resposta não tardou: na sua refeita moção de estratégia, portas inverteu a ordem: disse ser “normal e expectável” que os partidos vão separados – sem excluir que ela seja discutida em conselho nacional antes do acto eleitoral. uma forma de tentar travar o tema no congresso centrista.

outro tabu aberto é o da longevidade política do líder. há meses, o expresso escreveu que portas se preparava para o seu último mandato. “no partido ninguém quer ouvir falar disso”, dizia um deputado ao sol. em resposta, apareceu uma moção da nova geração de dirigentes ‘portistas’, que fixa o caminho para portas traçar a seguir ao desejado fim do resgate. “talvez ele queira que seja o último, nós não queremos que ele saia”, acrescentava a mesma fonte.

há ainda os críticos. e mais do que o costume. os trabalhadores democratas-cristãos, na moção que vão apresentar em aveiro, não poupam críticas a um governo que “ainda não conseguiu mostrar estar à altura dos graves problemas com que o país está confrontado”. e explicam porquê: portugal é um “país realmente pobre” e as “políticas mais relevantes” da maioria psd/cds são os “aumentos dos impostos, os cortes nas pensões, o aumento do desemprego e da pobreza”. fora da linha democrata-cristã que reclamam de volta ao partido.

também o ‘movimento alternativa e responsabilidade’, liderado por filipe anacoreta correia, tem uma moção crítica. quer contrariar a coligação nas europeias, ataca a imprevisibilidade do partido e anota divergências face a políticas seguidas.

mas há mais. a juventude popular leva ao congresso a revisão da constituição, proposta que portas tirou do guião da reforma do estado para não atrapalhar as negociações internas. josé manuel rodrigues, líder do cds /madeira, prepara o pós-jardinismo e pede um acordo a três (psd, cds e ps) para governar a região – um cenário tabu para futuro do país

alemanha sai da moção

mas a subida de portas a vice-primeiro-ministro em julho também terá reflexos nas moções que vão a congresso. é o caso da de nuno melo e diogo feio, eurodeputados centristas que aligeiraram as críticas à alemanha no bloqueio à criação de uma união bancária. aliás, da primeira para a segunda versão da moção dos deputados no parlamento europeu, a referência explícita à alemanha de angela merkel foi substituída por “constrangimentos nacionais” e “egoísmos inaceitáveis” mais abrangentes.

há ainda uma outra eliminação na moção que ia subir ao congresso que estava marcado quando paulo portas apresentou a sua demissão do executivo. na actualização que os eurodeputados fizeram ao seu texto inicial, a proposta de criação de “plano marshall europeu” (para criação de um plano global de investimentos) caiu e não foi substituída.

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