com sousa ribeiro na presidência, o tc barrou os cortes nas pensões dos funcionários públicos e os despedimentos no estado. e mostrou cartão vermelho ao corte dos subsídios de funcionários e pensionistas. mas também deixou passar parte substancial do ‘enorme’ aumento de impostos de 2013. a influência interna de sousa ribeiro mostra-se quando o tribunal se divide: em regra, os acórdãos vão no mesmo sentido do seu voto.
uma crise… revogável
o governo esteve por um fio no verão passado. a tensão entre psd e cds, crescente desde a elaboração do orçamento do estado para 2013, estalou em julho, com a intempestiva demissão de paulo portas, o político experiente e calculista.
vítor gaspar, o inflexível ministro das finanças, apresentou a demissão numa segunda-feira e divulgou a carta de despedida: saía em nome da «coesão da equipa governativa», num momento em que a confiança dos credores já estava conquistada. satisfeito com a saída de gaspar, o cds não exultou perante o nome seguinte: maria luís albuquerque. portas discordou, fez saber a passos coelho e sentiu-se desconsiderado perante a insistência do primeiro-ministro. tomou então a decisão «irrevogável» de se demitir, divulgada na televisão. durante dias, o país mergulhou na maior crise governativa de que há memória nos últimos anos. com o programa da troika para concluir, o fantasma de eleições antecipadas assustava a maioria dos políticos. a troika decidiu adiar a oitava avaliação, os juros da dívida dispararam.
passos e portas (muito pressionado pelos dirigentes do seu partido) sentaram-se então para acalmar os ânimos e cozinhar a melhor forma de ultrapassar a crise: uma remodelação governamental, em que o líder do cds passou a vice-primeiro-ministro.
no meio da incerteza, o presidente da república decidiu intervir e, numa declaração ao país, pediu um acordo de salvação nacional entre os três maiores partidos. as conversas duraram uma semana, acompanhadas pelo emissário de cavaco, david justino. não chegaram a conclusões, ficando longe de qualquer acordo. e o presidente, depois de uma viagem às selvagens, decidiu dar seguimento à remodelação, congelada durante esses dias.
escaldados com a crise, os partidos da coligação governamental prometeram mais empenho do que nunca – jura que estão a cumprir. pelo menos, até ver. ou até a troika sair de portugal.
a vitória de moreira no porto
a passadeira vermelha que o psd estava a desenrolar para luís filipe menezes chegar finalmente à presidência da câmara do porto teve que ser guardada à última hora. rui moreira, o burgês independente que se tornou herdeiro de rui rio, fez uma corrida discreta, mas eficaz, e tornou-se a grande surpresa nas eleições autárquicas de setembro.
moreira ganhou a câmara com 39% dos votos e o psd ficou em terceiro lugar com apenas 21%, numa prova de que afinal os eleitores não estão indiferentes à política e de que o monopólio dos partidos também já não é o que era.
o então presidente da associação comercial do porto conseguiu também, é certo, dividir o eleitorado do psd, que teve dificuldade em aceitar menezes como candidato, numa altura em que o mito de autarca-modelo já estava a cair, a avaliar pelas dívidas que deixou na câmara de gaia.
moreira conseguiu também ter ao seu lado o cds e muitos socialistas que não acreditavam em manuel pizarro, que conseguiu um honroso segundo lugar, tendo acabado por fazer um acordo com a equipa de vereadores de moreira.
além do porto, as eleições autárquicas trouxeram outra grande surpresa: o vendaval na madeira. em 11 câmaras, o psd perdeu sete – sinal da (tardia, mas inevitável) erosão do poder de alberto joão jardim. também o funchal passou a ser gerido por um independente (paulo cafofo).