Ausência de Passos irrita PSD

Uma oportunidade perdida. É assim que no PSD foi vista a ausência de Pedro Passos Coelho, no passado fim-de-semana, na Convenção do Partido Popular (PP) espanhol, em Valladolid. A leitura é agravada pelo facto de o líder do CDS e vice-primeiro-ministro ter aceitado estar presente e ter discursado.

Passos Coelho, que tinha recebido o convite há três semanas, não considerou prioritário estar presente, no que foi entendido pela direcção do PSD como ‘apenas’ um grande comício de lançamento da campanha das europeias. “O normal é que o líder do partido esteja presente nos Congressos”, explica ao SOL o secretário-geral social-democrata José Matos Rosa, usando o paralelismo com a representação enviada por Itália. O primeiro-ministro italiano, Enrico Letta, do Partido Democrático, também esteve ausente, enquanto o vice-primeiro-ministro, Angelino Alfano, do Novo Partido de Centro-Direita, subiu ao palco em Valladolid.

A explicação não convence, porém, Marcelo Rebelo de Sousa. “Se eu fosse primeiro-ministro, obviamente que aproveitava para lá ir e falar”, assume o ex-líder do PSD, que não compreende sequer a escolha de Fernando Ruas para representar o partido na Convenção. “Ruas é o presidente da mesa do Congresso do PSD, mas não existe em termos exteriores. Faria mais sentido que fosse, por exemplo, Paulo Rangel, que é vice-presidente da bancada do Partido Popular Europeu”, diz ao SOL.

Marcelo acha que a ausência de Passos “não é um erro político dramático”, mas “revela as prioridades” do primeiro-ministro e deu uma oportunidade a Paulo Portas para brilhar com um discurso sobre os sucessos do Governo português na saída do programa de ajustamento. De resto, Rebelo de Sousa vê na participação de Portas uma tentativa do CDS de ganhar espaço dentro do Partido Popular Europeu (PPE), de onde os centristas estiveram ausentes durante alguns anos.

“Se Passos Coelho foi convidado para ir intervir e não aceitou, a falha é do lado de cá”, comenta o antigo líder do PSD, Luís Marques Mendes, que em 2006 esteve – juntamente com Nicolas Sarkozy – num Congresso do PP, a convite de Mariano Rajoy. “Parece uma oportunidade perdida”, comenta ao SOL.

As prioridades de Passos são também questionadas por Pedro Santana Lopes. “Passos Coelho parece cada vez mais menos preocupado com a vertente externa”, afirmou Santana, esta semana, na CMTV, apontando como exemplo o facto de o primeiro-ministro ter posto nas mãos do CDS o controlo da AICEP (Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal).

Elogiando o discurso de Paulo Portas, que considerou “muito bem feito”, o ex-líder do PSD considera que há “uma divisão de tarefas curiosa no Governo”, que aparentemente deixa Passos a perder. “Passos Coelho fala de austeridade e tempos difíceis e deixa Portas brilhar. Esta é uma constatação de facto”, apontou Santana Lopes, que se interroga sobre os resultados desta estratégia de comunicação do Governo. “Será Passos Coelho masoquista? Não acredito, mas é um facto. Passos julga que ganha em manter esta imagem de dureza e frieza para dizer ‘fui eu que, com esta imagem, levei o país a sair da tormenta’“, conclui o ex-primeiro-ministro.

Ruas justifica-se a Marcelo

Perante as reacções, Fernando Ruas enviou mesmo uma carta a Marcelo Rebelo de Sousa, que o criticara na TVI, para explicar a sua ida a Valladolid. “A minha postura ao longo dos anos nunca foi a de me pôr em bicos dos pés ou de atropelar ninguém”, escreveu Ruas. O presidente da mesa do Congresso do PSD afiança ao SOL que “quiseram criar uma situação de disputa entre Passos e Portas”.

Para os que viram no episódio um esfriamento das relações entre os dois partidos, Fernando Ruas relata um encontro caloroso no final da Convenção: “Rajoy fez rasgados elogiados a Pedro Passos Coelho”.

E Matos Rosa destaca que esta semana está em Lisboa o líder do grupo parlamentar do PP para anunciar futuras e regulares jornadas parlamentares conjuntas Portugal-Espanha. Hoje mesmo, será recebido por Paulo Portas e por Passos Coelho (que, por sinal, no último fim-de-semana em que decorreu a Convenção do PP não teve agenda pública).

O PSD reúne-se em Congresso no final do mês, mas não vai fazer convites a delegações estrangeiras, à semelhança do que aconteceu há dois anos.

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