A saída limpa do programa de resgate está ao alcance de Portugal?
Isso só pode ser decidido quatro, três ou duas semanas antes do fim do programa. Depende de como estiverem os juros da dívida. Há vantagens e desvantagens em cada uma dessas saídas. Sou a favor de uma saída sem ajuda por uma questão de respeito pelo país e por nós próprios. O que fizemos foi o suficiente para conseguir aguentar o futuro sozinhos.
Um cautelar permite ao Estado financiar-se com juros mais baixos.
Mas há condições que vêm com um cautelar. Alguém sabe o que é um cautelar? Uma saída limpa, eu sei o que é. Para os investidores, o programa cautelar é uma coisa fantástica, uma espécie de seguro. Mas quanto vai custar a Portugal, não em termos financeiros mas em termos de medidas adicionais para impor sobre os portugueses e as empresas? Temos visto as notícias sobre enormes reticências dos países do norte da Europa em relação a um cautelar. Sou a favor de uma saída limpa ou, então, um cautelar feito por uma Europa solidária, um cautelar soft em que quem decide as opções são o próprio país. Um programa cautelar com policiamento de entidades internacionais, eu não quero.
O Governo precisa do PS para a saída limpa?
O país precisa do PS e não tem tido um PS à altura daquilo que precisávamos. Na semana passada, um deputado do PS referia-se aos deputados do PSD como gladiadores capados. Mas eu olho para este PS como um partido castrado como um cavalo: está lá, as pessoas olham e é um animal bonito e tem tudo aquilo que é preciso para ganhar, mas não quer sair dos estábulos para correr. É um partido que quer agradar a tudo e a todos, que vive só para a imagem e frases feitas. O PS diz que não quer aumentar impostos, mas também não quer cortar na despesa pública. Então como fazem a consolidação orçamental? É deprimente para o país ver o estado a que o PS chegou. Diz que quer ganhar em 2015, mas não quer apresentar uma proposta que possa atingir alguém.
Seguro está condicionado pelas lutas internas?
O PS tem feito algum esforço de consenso que é de louvar, no IRC e nas Infra-estruturas de Elevado Valor Acrescentado. Mas onde estão outras propostas concretas? Se não querem a CES, que solução apresentam? Se não concordam com a tabela de IRS, que alternativa propõem? O PS tem medo porque há uma faixa mais talibã que acha que o PS deve ir até à última sem diálogo. Mas o líder do PS teria muito a ganhar se tivesse a coragem de dialogar mais com o Governo. As pessoas começam a estar fartas dos políticos como um todo. Vêem-nos sempre à bulha por coisas que para elas são simples de entender. Não seria sensato que o PS desse a mão na reforma das pensões?
Em que matérias seria desejável consenso?
Na forma como queremos sair do programa de resgate e num programa sério para a reforma do Estado. O PS diz agora que o cautelar é melhor porque sai mais barato quando há três meses dizia que era mau porque era um segundo programa.
Quando diz que as pessoas estão fartas dos políticos, teme o espaço que movimentos cívicos independentes podem vir a ocupar?
Usando uma frase que foi dita nas últimas autárquicas [pelo independente Rui Moreira], aconteceram coisas que se os partidos políticos não quiserem perceber então não percebem nada daquilo que aconteceu. E isso não se aplica só às autárquicas.
O Congresso pode servir para se fazer essa reflexão?
O PSD deve reflectir sobre como lidar com uma nova forma de fazer política que vá ao encontro das pessoas. Os partidos não devem viver fechados nas concelhias e distritais, sob pena de a descredibilização ser tão grande que as pessoas deixem de ir votar. Um dos temas centrais devia ser falar sem medo da abertura do partido aos simpatizantes.
Como?
Ter a coragem de, num modelo à americana, os candidatos serem escolhidos em primárias no universo da localidade ou do distrito. Começava-se pelos candidatos à presidência de câmara. O líder do PSD já disse que é a favor do voto preferencial para os deputados e isso também me agrada.
Preferia que a oposição interna aparecesse no Congresso?
Claro. Mas a maior parte desses senhores não tem a coragem de falar nos sítios certos. Só falam nos fóruns que lhes dão jeito, naqueles onde não têm contraditório. Gostava muito de ver Rui Rio falar no Congresso sobre tudo aquilo que acha que o PSD tem feito de bem ou de mal, sobre o que acha que faria de tão diferente. Que fosse pôr lá preto no branco as suas propostas e fosse validar junto do partido a imagem de salvador da pátria que muita imprensa lhe quer dar. Rui Rio fez coisas extraordinárias e fez outras coisas mal e controversas, enquanto presidente da Câmara do Porto. Quem falta, é por falta de coragem.
PSD e CDS devem ir coligados às próximas legislativas?
Sou totalmente a favor. Os dois partidos são muito diferentes mas têm sabido trabalhar a nível parlamentar muito bem em conjunto. O Governo tem mostrado a coesão necessária para levar o país a bom porto. Acho que apresentar uma solução conjunta para as legislativas mostrava que o projecto destes dois partidos, sendo diferente em algumas situações, pode ser convergente no melhor interesse do país.
Marcelo não podia ser um bom candidato presidencial?
Marcelo Rebelo de Sousa é, na minha opinião, o melhor candidato presidencial que o PSD tem neste momento.
Mas a moção do líder não o afasta?
Discordo totalmente. Houve quem quisesse fazer essa leitura e discordo da leitura do próprio. Acho que o PSD é o partido mais bem colocado, com candidatos mais fortes para apresentar às próximas eleições presidenciais: Marcelo, Durão Barroso, Assunção Esteves, Leonor Beleza, Rui Rio. São candidatos, qualquer um deles, fortíssimos. As sondagens provam-no, constantemente. O Professor Marcelo é o candidato mais forte que o PSD tem.
Mas ele retirou-se. Não acredita na retirada?
Tenho a certeza de que não é uma retirada irrevogável.
Qual é a sua expectativa para o resultado da coligação nas europeias?
O PSD e o CDS concorrem para ganhar. Se há uns meses podia duvidar disso, a cada dia que passa, com o trabalho que tem sido feito, com os resultados económicos que tem saído, e com a irresponsabilidade que o PS tem mostrado, reforça-se a minha convicção de que temos fortes possibilidades de ganhar as europeias.