Ficou contente com a expulsão de António Capucho?
Tenho ouvido falar em ‘expulsão’, mas isso não está correcto. O que resulta dos estatutos, de que Capucho foi co-autor, é que quis ser excluído [ao ser candidato em Sintra contra a lista do PSD]. Teria sido mais feliz se tivesse saído pelo próprio pé, em vez de criar uma situação que ele já sabia que conduzia a isto.
Defendeu que era preciso haver uma censura política aos militantes que apoiaram listas contrárias ao PSD. Que censura seria essa?
Seria o Conselho Nacional exprimir desagrado, como aconteceu. O que não devia acontecer e aconteceu é militantes que têm responsabilidades não terem ido aos órgãos próprios exprimir as suas divergências. Há muitos que se aproveitam da situação de comentadores ou de estarem em lugares com expressão mediática, à custa do PSD, para depois não falarem nos órgãos próprios.
Está a falar de Marcelo, Marques Mendes, Manuela Ferreira Leite?
Estou a falar daqueles que nas autárquicas tiveram situações concretas. É fácil ver quais foram os responsáveis políticos do PSD que, ainda que não estivessem muito de acordo com a candidatura, não deixaram de participar na campanha. Marcelo é um deles. Participou na campanha. Em 30 anos, quem é que não engoliu vários sapos em candidaturas? Não podemos estar todos sempre de acordo com tudo.
Então, está a falar de quem? Rui Rio?
Rui Rio não se candidatou contra ninguém e por isso é que não teve nenhuma sanção. Não prejudicou o PSD. Mas eu preferia ter visto Rui Rio activo numa candidatura do PSD.
Mas os principais comentadores do PSD não vão ao Congresso. Tem pena?
Se não vão, tenho pena. Não compreendo por que é que há militantes de prestígio que não têm dificuldade em emitir opiniões no palco mediático e, tendo espaço para o fazer nos órgãos próprios, olhos nos olhos, não o fazem.
O Congresso vai a tempo de tirar ilações das candidaturas independentes nas autárquicas?
É preciso distinguir candidaturas independentes puras de candidaturas independentes ‘ex-qualquer coisa’. E eu diria que a larguíssima maioria de candidaturas são ‘ex-qualquer coisa’ porque não foram nomeados ou eleitos nos respectivos partidos. Não há democracia representativa sem uma estrutura partidária. Lutar pela qualidade dos partidos políticos não se faz desclassificando-os. Faz-se participando.
Seria boa ideia abrir as directas a não-militantes?
O que eu faria é uma reestruturação do ponto de vista orgânico, no sentido de criar secções temáticas e não estar baseado na lógica territorial. O PSD não pode ter medo do combate ideológico.
O que espera do Congresso?
Acho que este Congresso tem uma marca de mudança. O partido, tal como todos nós, teve de ser confrontado com o dia-a-dia destes últimos dois anos e meio. Usando uma linguagem militar, tivemos de ser uma força especial para combater as adversidades que conduziam o país à bancarrota. Agora, abre-se o espaço para fazer um planeamento a mais média distância ou perspectivar uma dimensão de crescimento. Foi possível criar as condições para hoje se falar no crescimento. O partido tem aqui um espaço de intervenção diferente.
De viragem do discurso?
De viragem do discurso. Estamos a um ano e meio do termo do mandato. Estão criadas condições para que se possa discutir para lá do dia-a-dia. Logo, o campo da ideologia volta felizmente a ter o seu espaço e o PSD não deve ter medo de discutir a ideologia. Não deve ter medo de discutir, na reforma do Estado, a dimensão do Estado imprescindível, em que condições deve estar, como é que deve ser a parte subsidiária da sociedade.
Deve haver mudanças na direcção?
É sempre saudável algum grau de renovação porque estes dois anos foram muito exigentes, quer ao nível da governação quer ao nível partidário. O partido teve de se confrontar com a impopularidade, com alguma incompreensão em relação a algumas medidas, teve também de dar a cara pelo Governo em situações nas quais não era fácil fazê-lo no terreno.
Há quem no PSD diga que o ideal era perder por pouco nas europeias e ganhar nas legislativas. Concorda?
O PSD sempre foi vitorioso quando não foi calculista. Há, desde há muito tempo, no partido uma sensibilidade mais calculista e outra mais espontânea. Mas os calculistas, que esperam sempre a melhor oportunidade, normalmente passam ao lado de uma grande carreira.
Rui Rio?
Não queria personalizar. Toda a gente sabe que no PSD há uma sensibilidade que sempre foi muito calculista e que, se fizermos a história do exercício dos cargos, se verifica que nunca chega aonde acha que tem condições para chegar. Porquê? Porque está sempre à espera da situação ideal.
Qual seria a melhor opção, cautelar ou saída limpa?
Muito mais importante do que a forma, era batermo-nos por uma saída estrutural sustentada. Haver um verdadeiro pacto de regime com o PS era a melhor saída.
Em que áreas deveria haver acordo?
Do lado da despesa do Estado, uma proposta para a sustentabilidade da Segurança Social. Do lado do crescimento, as condições da reforma fiscal.
Este PS está na disposição de fazer esse pacto de regime?
Eu acho que o secretário-geral do PS tem-se preocupado mais com António Costa do que com os problemas do país. Acho que as políticas de Seguro devem estar menos dependentes da Quadratura do Círculo.
O que lhe parece a ideia do PS de tribunais para grandes investidores?
Uma aberração. Aliás, eu nem sei o que é que isso é. E acho que ele também não sabe. É um soundbyte que lhe sopraram.
2015 pode ser um ano de alívio fiscal?
O país teve de fazer reformas estruturais para o equilíbrio das contas públicas. Esta necessidade de reformas vai continuar durante muitos anos. Desejavelmente, caminhamos para uma situação em que será possível fazer alívios fiscais, mas não podem ser vistos de forma desgarrada. Deve-se ter cuidado. E deve-se ser prudente para não criar expectativas nas pessoas.
Rangel é o melhor cabeça-de-lista para as europeias?
Paulo Rangel tem as condições e as características para sair vencedor. Aliás, foi cabeça-de-lista nas últimas eleições, num quadro muito difícil também, em circunstâncias ingratas, e saiu vitorioso.