“É evidente que a filosofia das quotas obrigou a este alinhamento nas listas europeias”, admite ao SOL a vice-presidente do PSD, Teresa Leal Coelho. Isso também é reconhecido pelo vice-presidente Carlos Carreiras, que frisa os “constrangimentos” que as quotas colocam e que desta vez foram “flagrantes”. Aliás, segundo Carreiras, essa dificuldade sente-se mais nas eleições autárquicas (listas para as câmaras e juntas de freguesia), ainda que não seja tão mediatizada.
Nas listas do PSD/CDS para as europeias, foram colocadas mulheres que preencheram também critérios aparelhísticos – no caso do PSD, a quota regional (Açores e Madeira), e no caso do CDS, para poder ficar com um segundo lugar potencialmente elegível, teve que nomear uma mulher, sacrificando o já reconhecido eurodeputado Diogo Feio.
Nas listas ao Parlamento Europeu, Assembleia da República e autárquicas a representatividade do sexo feminino é imposta. Mas é curioso verificar que este jogo de cintura devido à Lei da Paridade – que se iniciou nas legislativas de 2009 – não colhe ao nível das bases dos partidos.
Apesar de, em alguns casos particulares, os partidos apostarem em mulheres para lugares cimeiros – como é o caso de Teresa Leal Coelho, no PSD, ou de Maria de Belém, presidente do PS -, o aparelho partidário ainda é dominado por homens. Entre os presidentes das distritais do PSD apenas existe uma mulher, tal como no PS: só uma mulher é presidente de federação. Já o CDS não tem qualquer mulher nesses lugares.
“Socialmente ainda temos esse peso por ser mulher, ainda olham para nós”, admite ao SOL Madalena Pereira, presidente da Federação de Setúbal do PS. “A vida partidária não se compadece com uma organização familiar e profissional e muitas mulheres desistem”, refere.
Isaura Morais, presidente da distrital do PSD/Santarém, afirma que “ainda há um trabalho que as mulheres têm que fazer para se afirmarem”.
Ambas concordam que as quotas foram um meio importante para a afirmação da mulher na política, mas discordam da sua obrigatoriedade. “Tive de constituir listas autárquicas e isso coloca uma limitação quando olhamos para pessoas melhor colocadas, mas temos que cumprir a lei”, aponta Isaura Morais.
Também Teresa Leal Coelho diz não ser uma “forte entusiasta” das quotas, apesar de admitir que “sem esse impulso” estariam menos mulheres nas listas. “Gostaria que houvesse uma mudança de mentalidades e não uma exigência de quotas”.
Na altura de os partidos fazerem as listas, a pressão é enorme e vinda de muitos lados. Cada distrital tenta puxar lugares elegíveis. Sem quotas, em partidos ainda no masculino, compreende-se que as listas seriam substancialmente diferentes.