“A relação do Bloco de Esquerda com independentes vai muito para além dos casos citados e considero que é uma história muito rica e bem sucedida”, responde ao SOL o coordenador do BE João Semedo. O argumento mais forte é o exemplo que os próprios líderes do BE têm para apresentar. “Tanto eu como a Catarina Martins entrámos nas listas do Bloco e fomos deputados como independentes. Que partido em Portugal é que tem na sua liderança alguém que tenha entrado como independente nas suas listas? Nenhum”, argumenta Semedo.
Nas europeias, não é só João Lavinha que surge em lugar potencialmente elegível. Logo depois aparece o nome bem conhecido do arqueólogo Cláudio Torres (há cinco anos, Rui Tavares aparecia também em terceiro lugar na lista). “Nestas europeias, metade da lista do Bloco são independentes, o que não acontece com qualquer outra das candidaturas”, aproveita para sublinhar o coordenador do BE.
Os independentes são “uma marca identitária do Bloco”, um traço que dá um sinal para fora mas também para dentro do partido. “O Bloco nunca colocou como condição para que alguém colabore ou seja seu candidato a sua inscrição no partido. Não somos um partido de pensamento único, reconhecemos que os independentes enriquecem a nossa proposta política”, vinca o líder bloquista.
João Lavinha é ex-director do Instituto Ricardo Jorge e trabalhou como investigador em diversas universidades estrangeiras. Conhece o funcionamento das instituições europeias por ter participado na negociação dos Programas Quadro para a Ciência da União Europeia. O BE propõe-o para número dois, sacrificando Alda Sousa.
PCP com lista conservadora
Mas as actuais sondagens dificultam a ambição bloquista de elegerem dois deputados – em 2009 elegeram três: Miguel Portas, Marisa Matias e Rui Tavares. Na última auscultação da Eurosondagem para o Expresso, o BE aparece com 6,9%. O mais certo será eleger apenas um eurodeputado.
Aos 64 anos, João Lavinha diz que “sentiu um impulso muito forte” para intervir politicamente, numa altura “de calamidade social”. É a primeira vez que se envolve numa candidatura partidária, mas sem receios. “Não me puseram condições e tenho a maior confiança em João Semedo e Marisa Matias”. E conclui: “É um risco calculado que não belisca a minha consciência de independente”.
Ao invés dos bloquistas, o PCP optou por manter a número dois da lista. Se os comunistas conseguirem manter a sua representação de dois eurodeputados em Estrasburgo, João Ferreira e Inês Zuber irão continuar.
Inês Zuber substituiu há dois anos a histórica Ilda Figueiredo, que foi a cabeça-de-lista em 2009. A bióloga e investigadora tenta agora ser directamente eleita. As sondagens dão como provável que a CDU consiga colocar dois representantes na Europa.