Tem pena de perder colegas como Edite Estrela ou Capoulas dos Santos?
Ambos fizeram parte de uma equipa excelente, que se completava. Tenho uma boa memória destes dez anos dos dois mandatos. Mas volto-me para o futuro e vejo que temos uma lista com gente diversificada, muito habilitada para ir à luta para mudar a Europa.
O que a motiva a candidatar-se para um terceiro mandato?
Do ponto de vista pessoal estava dividida – o ir e vir de Bruxelas e o trabalho lá são muito cansativos. E custa-me não estar com os meus netos. Do ponto de vista profissional, não tenho dúvidas de que o investimento que fiz nestes anos está agora a render. Penso que deve haver renovação nas listas, mas também é precisa alguma continuidade. Eu e a Elisa Ferreira, com a experiência que adquirimos, temos hoje uma influência entre os nossos pares que não tínhamos quando entrámos. E que não tem ninguém que entre agora – nem que seja o Presidente da República! Acho, por isto, que sou mais útil no Parlamento Europeu. Tenho hoje uma maior capacidade para lutar no sentido de mudar a Europa.
Não sente que é a ‘flor na lapela’ de uma lista que não é muito à esquerda?
(risos) Eu sou como sou. Sou livre e é por isso que estou no PS. Eu sei que represento a esquerda do PS, que é precisa e é ouvida na Europa. Olhando para a composição da lista, tenho a sensação que é excelente. Por exemplo, Pedro Silva Pereira é uma grande aquisição. Há gente com diferentes sensibilidades e é isso que faz a qualidade do PS.
A inclusão de Silva Pereira implica uma reconciliação com a experiência governativa de Sócrates? Isso é positivo?
Não faço esse tipo de leitura. Pedro Silva Pereira é extraordinariamente capaz, com provas dadas como ministro e com uma intervenção política de grande substância – costumo ler religiosamente o que ele escreve no Diário Económico. Estou também muito contente que esta seja uma lista paritária, é um sinal de grande coragem do secretário-geral. É a primeira vez que o PS o faz e eu vim para o PS para encorajar as mulheres a virem para a política.
É importante ter o PS unido?
Não tenho dúvidas que o PS está unido. E está-o num momento importante não só para mudar a Europa mas também do ponto de vista do impacto nacional das eleições europeias. Não tenho dúvidas que se tivermos um grande resultado isso terá consequências calendário político nacional. Espero que os portugueses percebam que esta é uma grande oportunidade para nos vermos livres o mais cedo possível de um governo que está a destruir o país.
E o que é uma grande vitória do PS?
É o PS aumentar a sua representação no Parlamento Europeu.
O PS subscreveu o Tratado Orçamental que implica a aceitação da redução do défice. Não é normal que o PS indique onde corta na despesa do Estado?
Quem é Governo neste momento não é o PS. São o PSD e o CDS que têm a responsabilidade de apresentar propostas concretas. O PS na Oposição não tem sequer elementos concretos para poder fazer propostas para o Orçamento. Agora, acho que muitos aspectos do Tratado Orçamental são incumpríveis. E não é só por Portugal. O Tratado Orçamental vai ter de sofrer as alterações que as vicissitudes vão impor. Não vejo que o Tratado Orçamental seja uma coisa tão fundamental como se antecipa, terá de haver ajustamentos e é para isso também que o PS tem de ter voz no Parlamento Europeu e nacionalmente. Há aspectos do Tratado Orçamental inexequíveis e desastrosos para Portugal.
Concorda com o Manifesto dos 70 para reestruturar a dívida?
Concordo com o manifesto e se tivesse sido convidada teria assinado. Mas teria pedido que se trocasse a palavra reestruturação por renegociação. Porque reestruturação pode ter a leitura de perdoar parte da dívida e isso não serve diplomaticamente os interesses portugueses. Eu quero um alargamento dos prazos, e um abaixamento dos juros, que nos deixem respirar e crescer. E queremos mutualizar a dívida aceima dos 60% a um nível europeu.
Acha que a crise na Crimeia pode favorecer os partidos de centro-direita na Europa?
Não, que disparate! Pelo contrário. É uma crise que é uma oportunidade para a Europa afirmar os seus valores, para apoiar a Ucrânia e não ficar à mercê de novas atitudes agressivas de Vladimir Putin. O que está em causa na Ucrânia não é só a primeira anexação de território depois da Segunda Guerra Mundial mas é também a violação pela Rússia do Tratado de Desnuclearização da Ucrânia, de 1994. Sou a favor de sanções ao regime de Putin e de outro tipo de sanções que passam pela independência da Europa em matéria energética.
Como vê a actuação de Luís Amado, que, enquanto administrador do Banif, aceita a entrada de capital da Guiné Equatorial, depois de ter estado envolvido, quando era ministro dos Negócios Estrangeiros, na adesão daquele país à CPLP?
Vejo muito mal. Já vi também muito mal outras coisas que ele fez quando era ministro e eu nunca me calei, nomeadamente no encobrimento dos chamados voos da CIA. Portanto, não me espanta que agora esteja a recorrer a um esquema que implica uma perversão da CPLP e é no fundo uma tentativa de dar respeitabilidade a um regime torcionário e corrupto como o da Guiné Equatorial. Espero que o Banif e outros bancos portugueses se abstenham de um tipo de envolvimento que a prazo lhes pode sair muito cara na sua credibilidade.
O próximo comissário europeu deve ser escolhido pelo PS?
Sempre ouvi dizer que havia um acordo não escrito entre PS e PSD que implicava uma alternância, mas esse acordo já foi violado. Não me esqueço que quando Durão Barroso saltou para Presidente da Comissão Europeia tinha dito antes, enquanto primeiro-ministro, que apoiava António Vitorino para ser presidente da Comissão. Mas espero que o PS se bata por isso, até porque tenho a expectativa que o país tenha em breve um Governo socialista e seria mais favorável ter um comissário socialista. Mas, no limite, gostaria que houvesse um entendimento entre o PS e o PSD, para escolher uma pessoa capaz.
Vê como desejável um governo de Bloco Central tendo o PS como principal partido da coligação?
Pode ser necessário, não o descarto. Mas obviamente não é com este PSD de certeza absoluta. É com o PSD fiel aos valores social-democratas que não é o de Passos Coelho, que tem uma política ultra-liberal, mais troikista que a troika. Admito, dada a situação em que o país está, dado o tipo de constrangimentos, que haverá quando o PS voltar ao Governo, que seja útil ter um governo o mais abrangente possível. Mas depois de nos vermos livres desta gente que tem destroçado o país e a confiança dos portugueses na Europa.