Reestruturação é tabu para Seguro

O Manifesto dos 74, transformado em petição para ser discutido no Parlamento, tem um problema para o PS: a palavra reestruturação.

“Tudo o que tiver a palavra ‘reestruturação’ tem a nossa rejeição. Induz a ideia de um perdão, de um haircut, da dívida”, explica José Junqueiro, vice-presidente da bancada socialista. Por isso, “o PS vai apresentar uma iniciativa própria, em que insiste na renegociação, ao invés da reestruturação”.

Mas os socialistas preferem não hostilizar o Manifesto dos 74, até porque não é claro “que lá esteja expresso o perdão da dívida”, o tal que a direcção socialista rejeita pelos efeitos negativos que teria na atitude dos credores. Mas a palavra reestruturação ‘queima’: “É melhor não usar uma expressão que dá problemas do que ter de explicar a 10 milhões de portugueses o que queremos dizer”, ironiza Junqueiro.

Há outra boa razão. Em 2011, António José Seguro, quando disputava a liderança do PS a Francisco Assis, deu uma entrevista ao jornal do PS, o Acção Socialista, em que não podia ser mais claro a rejeitar o pedido de perdão aos credores. Seguro disse ser “contra a reestruturação da dívida porque seria uma tragédia nacional”.

A semântica é clara para a direcção do PS. Renegociar é conseguir melhores taxas de juro e prolongar o prazo do pagamento. E é também proporcionar a assunção pela UE de uma parte da dívida. Este é mais um ponto a ‘separar de águas’ entre o a direcção do PS e o texto do manifesto. Os signatários do manifesto falam numa “reestruturação” que promova a mutualização europeia da parte da dívida que exceda os 60% do PIB. Os socialistas concordam em mutualizar a dívida, a nível europeu, mas entendem que isso não é uma reestruturação.

No entanto, há quem na bancada do PS não tenha receio de uma adesão completa ao Manifesto dos 74. Isabel Moreira foi uma das deputadas socialistas que divulgaram o texto nas redes sociais e se solidarizaram com a sua mensagem.

manuel.a.magalhaes@sol.pt