Comunistas na mira do PS

O PS tem como principal alvo da campanha das europeias a aliança de direita, mas no extremo oposto do espectro político há um adversário a ter em conta. O PCP, cujo crescimento eleitoral pode prejudicar o resultado do PS, surge também na mira dos socialistas.

Enquanto Francisco Assis tem dirigido os ataques ao PSD e CDS, Pedro Silva Pereira, candidato a eurodeputado, virou-se para o PCP. O ex-número dois de José Sócrates decidiu no seu artigo semanal no DE verberar o «radicalismo ideológico que vai passando entre os pingos da chuva», justificando a necessidade de «denunciar a falsidade da narrativa comunista antes que ela se torne perigosa».

Os comunistas ambicionam eleger mais um eurodeputado – o terceiro. Se o conseguirem «o PS não elegerá o nono ou o décimo deputado», diz Rui Oliveira e Costa, responsável pela Eurosondagem. O especialista em sondagens não acredita, no entanto, numa transferência de eleitorado do PCP para o PS. «Não há quem hesite entre votar na CDU e no PS. O eleitorado comunista é fiel», frisa ao SOL. Assim sendo, o máximo que os socialistas podem conseguir é «causar dúvidas no eleitorado alheio levando-o à abstenção».

Para atacar o partido de Jerónimo de Sousa, os socialistas separam a agenda interna das matérias europeias, apontando baterias sobretudo a esta última. «O PCP classifica a União Europeia como um projecto imperialista ‘irreformável: preconiza, de forma aventureira, a dissolução da União Económica e Monetária e a saída de Portugal do Euro», nota Silva Pereira. «Para que ninguém vá ao engano», o candidato do PS avisa que o PCP «insiste na nacionalização dos sistema financeiro e dos sectores estratégicos da economia».

No Rato, esta estratégia de ataque não reúne consenso. «A afronta não é eficaz. O que faz mais sentido é esvaziar o discurso do PCP. O eleitorado que se revê nos comunistas confiará no PS na medida em que se reveja em políticas concretas, de índole social», diz um dirigente. Este socialista julga que isso já acontece em áreas como a educação e a saúde e perspectiva que o discurso do PS na Europa e na economia pode capitalizar pontos junto dos que votam CDU.

Mas sendo as eleições europeias uma oportunidade para expressar o protesto face à austeridade, os comunistas estão em vantagem. «O voto de protesto não é só contra o Governo é também contra a Europa, que permitiu que uma troika tomasse conta de Portugal», nota outro dirigente socialista ouvido pelo SOL.

Ou seja, existe o perigo de o PS aparecer perante os eleitores colado a uma política europeia que fez baixar o nível de vida dos portugueses e que aumentou o desemprego. Ainda assim, os socialistas têm trunfos que podem jogar nas europeias. «As pessoas podem estar muito descontentes, mas para a maioria seguramente que a solução não é sair do Euro», argumenta um dirigente.

É esse ‘papão comunista’ que Silva Pereira agita no seu artigo e que poderá ser replicado na campanha. O PS insistirá ainda na tese – que serve para atacar também o BE – de que foi a esquerda, ao chumbar o PEC 4 que precipitou a intervenção da troika.

Rui Oliveira e Costa sublinha que os eleitores comunistas quanto muito serão levados a abster-se, não a votar no PS. Já os bloquistas são ‘aliciáveis’. «Há uma circulação de voto entre o BE e o PS e de que maneira», diz ao SOL. Numa eleição em que prevê «uma abstenção entre 63% a 66%», o perito em sondagens insiste em que «levar a abstenção da concorrência» pode fazer a diferença.

A batalha na esquerda promete pois ser um subcapítulo da campanha. O cabeça-de-lista do PCP, João Ferreira, abriu as hostilidades contra o ‘slogan’ do PS. «Espalham por aí agora uns cartazes a dizer ‘mudança’. Os portugueses conhecem bem o significado desta mudança há, pelo menos, 37 anos». Silva Pereira contrapõe: a agenda radical do PCP é «teimosamente irreformável».

manuel.a.magalhaes@sol.pt