Discursos muito críticos no roteiro do 25 de Abril

Um Presidente da República mais duro e um primeiro-ministro a mudar o tom do discurso: a sessão solene de amanhã, na Assembleia da República (AR), assinala os 40 anos do 25 de Abril e os actores políticos, como já vem sendo hábito, vão aproveitar o palco e o simbolismo da data para deixar recados.

Cavaco Silva tem lançado farpas ao Governo nos seus últimos discursos, nomeadamente contra os sacrifícios excessivos que têm sido impostos a pensionistas e funcionários públicos (ver pág. 12). O Presidente da República também tem apelado ao consenso entre os agentes políticos e tem pedido para que não haja crispação, nem agressividade, numa altura em que os partidos já disputam as próximas eleições europeias, trocando duras acusações. É previsível que o tom do discurso de Cavaco no 25 de Abril siga o mesmo fio condutor, lançando avisos mais duros, a menos de um mês da saída da troika de Portugal.

Seguro e Jerónimo discursam

A sessão solene será a única iniciativa de comemoração em que Cavaco Silva participará neste 25 de Abril. Só em Maio, nos dias 9 e 10, a Presidência da República assinalará a data, com uma conferência internacional: ‘Portugal, Rotas de Abril – Democracia, Compromisso e Desenvolvimento’. Ramalho Eanes é o único ex-Presidente que participará.

Já Passos Coelho tem sido mais optimista nas últimas declarações que tem feito. Ontem de manhã, numa conferência organizada pelo Diário Económico, disse mesmo antever tempos “radicalmente diferentes” e que quer “fazer a Função Pública respirar”. Já no debate quinzenal, à tarde, insistiu que há uma inversão de ciclo “assinalável” que permitirá “corrigir injustiças”. O objectivo é transmitir uma mensagem de mudança de ciclo, numa altura em que o Governo prepara a estratégia de saída do programa de ajuda externa.

Com as devidas homenagens ao dia da revolução dos cravos, do lado dos partidos da oposição prevêem-se discursos críticos à austeridade e ao rumo que o país tem levado. No PS e no PCP, serão os próprios líderes, António José Seguro e Jerónimo de Sousa, a discursar. Já o BE escolheu uma deputada mais jovem, Mariana Mortágua.

Os partidos da maioria vão virar as baterias para o futuro do país sem troika. Já no ano passado, uma das frases-chave do discurso dos sociais-democratas foi a de que “honrar Abril é reconquistar a liberdade”. Este ano, será o líder da bancada parlamentar, Luís Montenegro, a subir ao púlpito. A escolha do CDS recaiu sobre Filipe Lobo D’Ávila: é porta-voz do partido e também ele faz agora 40 anos.

Capitães no Carmo, na antiga PIDE e na avenida

Após a polémica com a Presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves, os capitães de Abril vão rumar ao Largo do Carmo, em Lisboa, em vez da AR.

A partir das 11h – às 10h começa a sessão no Parlamento -, haverá uma concentração no histórico largo, para uma evocação a Salgueiro Maia que, segundo a Associação 25 de Abril, “personifica a homenagem a todos os militares” que fizeram a revolução. Durante esta cerimónia, está apenas previsto um discurso do presidente da associação, Vasco Lourenço. Ao lado dos capitães, estarão o ex-Presidente da República, Mário Soares, e o histórico socialista Manuel Alegre.

A mensagem de Vasco Lourenço não andará longe da já emitida pela Associação 25 de Abril, que esta semana propôs uma “ampla mobilização nacional” contra o Governo e o Presidente da República: “Temos de ser capazes de expulsar os ‘vendilhões do templo’. Os desmandos e a tragédia da actual governação não podem continuar”.

Após o tributo a Salgueiro Maia, os militares têm prevista uma deslocação ao edifício onde funcionou a PIDE/DGS, na rua António Maria Cardoso, numa homenagem aos cidadãos ali assassinados no final da tarde de 25 de Abril de 1974.

Às 15h, realiza-se o tradicional desfile popular pela avenida da Liberdade, desde o Marquês de Pombal ao Rossio. Aqui, irá discursar um dos militares de Abril, que este ano será Aprígio Ramalho.