Como vai comemorar os 40 anos do 25 de Abril?
Estarei na AR, na cerimónia oficial e depois penso participar em diversas iniciativas. E eu comemoro o 25 de Abril todos os dias.
Pensando no 25 de Abril como um processo histórico de 40 anos, qual foi a maior alegria que teve?
A liberdade, não há dúvida nenhuma. E foi essa a palavra mais gritada pelas pessoas que saíram à rua, numa enorme expressão de alegria e não de vingança ou raiva relativamente ao passado.
Há algum momento que concretize de forma intensa uma conquista de Abril?
A aprovação da Constituição de 1976, que abre caminho para uma sociedade democrática, não isolada e para a construção de um modelo de Estado social.
Qual é a maior desilusão?
Eu não tenho desilusão nenhuma em relação ao 25 de Abril. Tenho desilusão relativamente à ligeireza com que se põem em causa conquistas de Abril como se fossem peças dinossáuricas.
Quais são os heróis?
Sem dúvida nenhuma que tem de se prestar reconhecimento enorme aos capitães de Abril. E a todos os que arriscaram a pele e sofreram torturas, lutando contra o regime. Teria de fazer vários murais a uma multidão de heróis desconhecidos.
O que se passou com os militares nas comemorações dos 40 anos é um sinal de ingratidão?
É um sinal de desrespeito grande. Não nos podemos esquecer de que estamos todos aqui devido a eles e não acho que tenhamos de ser ultra protocolares, sobretudo na comemoração dos 40 anos. Eu veria com agrado a intervenção dos militares na Assembleia.
O 25 de Novembro foi o fim de um sonho ou a certeza da democracia?
O 25 de Novembro foi muito importante para que a revolução seguisse uma normalização no sentido de uma democracia pacificada, plural e inserida no espaço ocidental. Eu estaria certamente do lado dos que fizeram o 25 de Novembro.
O 25 de Abril é mais património da esquerda do que da direita?
As conquistas de Abril não são privilégios da esquerda, são direitos de todos. Agora, há mais pessoas de esquerda que lutaram contra o fascismo.
Como é que a sua família viveu o 25 de Abril? Tendo o seu pai sido ministro do anterior regime sentiu que ‘não houve vingança nem raiva’ como dizia há pouco?
O meu pai já estava fora quando se deu o 25 de Abril – foi uma coincidência. O resto da família acabou por se juntar ao meu pai no Brasil. Entretanto eu nasci no Brasil e a minha família viveu lá quatro anos.
Fez uma campanha eleitoral, em 1987, quando era criança. Como foi?
Fiz com o meu pai, então presidente do CDS. Eu tinha 11 anos. Foi inesquecível. Até em termos de perceber que a política dói – essa eleição deu maioria absoluta a Cavaco Silva. E aprendi muitas coisas, que são válidas para pessoas de direita e pessoas de esquerda, como a autenticidade, a questão de não votar útil, e como a preocupação permanente com a pobreza, que eu via muito nos discursos do meu pai.
A sua preferência pela esquerda também acontece cedo?
Não. Dá-se muito tarde. No 12.º ano tive um professor de filosofia, o escritor Rui Nunes, que me influenciou muito. Depois quando fui para Direito, percebi que uma inquietação que já vinha de trás tinha a ver com eu ser de esquerda e não de direita. Mas isso é uma coisa que não se descobre de um dia para o outro. É como se a roupa não nos servisse. E há um dia em que uma pessoa descobre que não há nada de errado com o nosso corpo, a roupa é que está apertada. E percebi que era de esquerda e nunca mais parei.
Onde é que falta cumprir o 25 de Abril?
O 25 de Abril tem de se proteger todos os dias em áreas ameaçadas, com o ensino público, o Serviço Nacional de Saúde e o sistema de reformas. E há áreas em que o 25 de Abril ainda não se cumpriu, como a dos direitos dos homossexuais.
Um estudo recente revelou que o 25 de Abril é a data histórica mais importante para a maioria dos portugueses. Não devia ser outra, como o 5 de Outubro ou o 1.º de Dezembro?
Não são datas comparáveis. Eu diria que, dando por adquirido que Portugal existe, o 25 de Abril é a data mais importante da nossa História. Para mim, é.