Estivemos agora mesmo com a Emma Stone [namorada do Homem-Aranha no filme e de Garfield na vida real] e ela falou muito bem de si. O sentimento é recíproco?
Ela é uma actriz incrível, como bem sabemos. É aquilo a que eu chamo um talento singular. Por isso estou muito contente por estar no elenco com ela. Bem como com o Jamie [Foxx] e o Dane [DeHaan]. É um elenco excelente, com actores fenomenais.
A verdade é que se sente entre ambos uma boa vibração…
Talvez porque tentamos não representar. E o melhor é termos connosco actores que desejam o mesmo tipo de aproximação. Foi o que aconteceu, com a Emma, o Dane, o Jamie, a Sally Field, todos queriam esquecer-se que estavam a representar para uma câmara. É essa a minha intenção quando represento.
Quando começou esta viagem esperava que corresse assim tão bem?
Claro que sim. Mas sou assim com tudo. Espero sempre ter as melhores experiências, mas nunca se sabe. Acontece que neste filme conseguimos criar uma autêntica família.
Este Homem-Aranha lida muito com a esperança. Há momentos em que também sente que precisa de um pouco de esperança?
Claro que sim. Todos precisamos. Se não, o que andamos cá a fazer? Qual é o mistério da vida? Há demasiadas perguntas sem resposta, acho que não devemos desistir de a encontrar. Por mim, procuro esperança na natureza, na História, em cada pessoa que encontro, nos filmes. Em geral, na Arte.
Depois de Homem-Aranha espera-o a batina do sacerdote português que irá vestir no filme de Martin Scorsese, O Silêncio. É algo que vai de encontro àquilo que estava a dizer?
Sim, trata-se de um projecto muito interessante. No fundo, uma conversa com Deus. Em que Deus é o ente silencioso. Essa é a grande questão existencialista. Vai ser muito interessante mergulhar nesse tipo de território.
Que expectativa tem de trabalhar com Scorsese? Acha-o uma figura assustadora?
Não, de todo. Todos sabemos como ele consegue retirar grandes performances e como consegue inspirar todos os actores que trabalham com ele. Era uma oportunidade que não podia perder.
O que descobriu sobre este sacerdote português? É que a sua história não é muito conhecida em Portugal. O que mais o fascinou nesta personagem?
Só iremos começar a filmar no Inverno. Para já, o Sr. Scorsese enviou-me três caixas de material para pesquisa. Por isso terei muito para investigar: filmes, livros, fotografias, imagens… Há muito trabalho para fazer.
Sente que O Silêncio poderá ser o seu filme mais negro?
Sim, acho que O Silêncio será o mais negro de todos. Em que o Homem está à deriva…
Completou 30 anos no Verão do ano passado. Sente que está mais maduro do que quando era apenas um novo miúdo inglês acabado de chegar a Hollywood?
Acho que nunca fui um novo miúdo em Hollywood a gozar a vida. Isso não sou eu. Essa pode ter sido uma ideia passada por algum jornalista. Sempre fui como sou agora.
Talvez houvesse um maior entusiasmo…
Entusiasmo, sim. Ainda o sinto, porque gosto demasiado daquilo que faço. Nesse sentido sinto-me um privilegiado. Por outro lado, quem conta histórias tem a responsabilidade de reflectir sobre as grandes questões. Se não nos questionarmos, como poderemos ser credíveis naquilo que fazemos?
Mesmo que seja metade americano, sente que a sua essência é britânica?
Sinto-me ambas as coisas. Acho que sou americano e inglês. Adoro poder ser ambas as coisas. É uma combinação feliz.
Como descreveria essa dualidade?
Por um lado, sinto aquela contenção natural britânica; mas, por outro, reajo de forma tipicamente americana. Talvez essa expressividade resulte do facto de termos mais espaço nos EUA e do sol da costa oeste. Sinto-me afortunado por poder beneficiar de ambas as experiências.
Imagino que para si o futebol ainda seja algo que apenas se joga com os pés…
Sim, claro! O futebol americano não faz qualquer sentido. Não compreendo como os deixaram levar essa avante.
Tem algum clube favorito?
Gosto de jogar, mas não sigo nenhuma equipa em particular. Não pertenço a esse tribalismo.
E tem planos para voltar a trabalhar no cinema britânico?
Sem dúvida. Aliás, até porque em Inglaterra me sinto mais em casa do que na América. Mas não é nada que faça parte de um plano específico.
Voltando ao Homem-Aranha, até que ponto esse fato é sagrado para si? Deixaram-no levá-lo para casa?
Por acaso até tenho um na minha bagagem. Viaja sempre comigo. Mas só o uso em ocasiões especiais. Para mim é sagrado. É um ícone.
Gostava de lhe fazer uma pergunta mais pessoal. Espero que não se importe. Já revelou que quando era mais jovem teve algumas problemas de bullying, algo que afecta muitas crianças hoje em dia. O que lhes diria?
Dir-lhes-ia que não estão sozinhos, pois é algo que acontece com frequência. Dir-lhes-ia que devem falar sobre isso. Estou a pensar o que eu precisava de ouvir na altura. O que acontece frequentemente é que a pessoa que faz bullying de alguma forma também está perturbada. Ela também não gosta da sua vida, por isso vinga-se nos outros. Na altura não percebi isso, apenas achava que havia algo errado comigo. É um assunto que deve ser conversado com os pais. A criança deverá trazer isso aos pais. E eles deverão saber escutar.
De que forma isso o modificou depois de ter superado o trauma?
O bullying é algo que segue connosco. Porque é poderoso, encerra muita energia. Mas as nossas feridas acabam por ser as grandes dádivas. Por isso, eu estou bastante agradecido ao jovem que me sujeitou a essa tortura na escola. Sem esse bullying não seria o Homem-Aranha. E não estaria aqui a falar consigo. Nesse sentido, a ferida foi a dádiva.
Sentiu que, de certa forma, isso lhe permitiu explorar a sua criatividade?
Seguramente. Fui alvo de bullying por ser sensível e magricela.
Pelo menos já não é magricela…
[risos] Ainda sou magrito, pelo menos quando não vou ao ginásio. Fui torturado por ser sensível, quase de uma forma feminina. É isso que agora me ajuda muito e me permite ser actor. Posso usar todas essas qualidades no meu trabalho.
Quase como um super-poder, não?
Exacto, o poder de ser sensível e de sentir empatia com os outros.