Europeias: quem disse para não falar em política nacional?

No arranque da campanha para as europeias de 25 de Maio ficou uma certeza: a política nacional vai mesmo entrar na corrida a Bruxelas e nunca como agora o passado recente será tanto e tantas vezes recordado. 

Europeias: quem disse para não falar em política nacional?

Nuno Melo, primeiro da lista do CDS na candidatura da ‘Aliança Portugal’ (lista conjunta do PSD/CDS que tem à cabeça Paulo Rangel), reconheceu que não terá a “ingenuidade” de acreditar que a situação interna do país – o mesmo é dizer que a luta político-partidária com base na herança de cada partido do arco da governação – não irá contaminar a campanha para o Parlamento Europeu (PE). 

No distrito da Guarda, Nuno Melo e Paulo Rangel dispararam de todas as formas para o PS. Melo começou por dizer que “um partido que deixou o país na bancarrota não merece ganhar as eleições”, numa referência ao governo de Sócrates e ao pedido de assistência financeira internacional formulado em 2011 pelos socialistas. Rangel, em perfeita sintonia com o sei parceiro de coligação, concretizou e rematou: “o PS é o rosto da insensibilidade social” porque fez “o maior ataque ao Estado social desde o 25 de Abril”. Disse mais: quando os socialistas choram pelo Estado social”, trata-se de “lágrimas de crocodilo”. 

Mas não é só a direita que recua no tempo para analisar a situação do país em período de campanha eleitoral e responsabilizar os governos do PS. João Ferreira, cabeça de lista da CDU, trouxe ontem para a campanha o PEC IV de Sócrates, que segundo o ex-primeiro-ministro socialista era a fórmula certa para evitar um resgate. Os comunistas elegeram como alvo nesta campanha o PS. E tudo serve para tirar votos ao partido de António José Seguro. 

“É bom lembrar o que esteve e o que está no PEC IV”, frisou João Ferreira, em Coimbra, que enumerou uma série de medidas de austeridade contidas no documento de Sócrates para acusar também o PS de ser responsável e subscritor das mesmas medidas de austeridade aplicadas pela maioria PSD/CDS no âmbito do programa de assistência da troika. 

Marisa Matias, a candidata número da lista do Bloco de Esquerda, em Salvaterra de Magos, também não evitou uma avaliação à situação do país e ao Governo de Passos Coelho. “A actual política não melhorou em nada o país, ao contrário do que diz a propaganda do Governo”, afirmou. Na agenda dos bloquistas esteve o desemprego, a saúde e o ambiente e as responsabilidades das políticas nacionais e europeias para o agravamento destes sectores. 

Francisco Assis, cabeça de lista do PS, é o que vai ter de contar com mais oposição. De um lado PSD/CDS e do outro CDU. “Não estamos contra o rigor das contas públicas, mas uma gestão rigorosa nunca foi sinónimo de uma austeridade obsessiva”, dizia Assis, em Nelas, ensaiando a demarcação clara da maioria. Assis vai ter de gerir durante toda a campanha as razões que levaram os socialistas a subscrever o Tratado Orçamental, uma norma europeia que impõe um limite ao endividamento e ao défice público subscrita pelos três partidos do arco da governação: PS, PSD e CDS. 

Até ao dia 23, a agenda nacional com cheiro a Legislativas de 2015 vai estar ao rubro. Entre acusações e defesa, tudo vale na hora de apelar ao voto útil nas eleições que são consideradas um ensaio geral para a escolha do novo governo, no próximo ano. Seguro, líder do maior partido da oposição, já vai aproveitando a boleia das eleições europeias e do Facebook para dizer que tudo fará para repor as pensões e reformas afectadas pela austeridade e para reduzir “mesmo” o valor do IVA na restauração. 

ricardo.rego@sol.pt