Em resposta aos jornalistas, no segundo dia de programa oficial da visita à China, o chefe de Estado disse que foi feita uma leitura truncada do que escreveu no dia 05 de maio num 'post' na rede social Facebook, acrescentando que a frase em questão foi retirada do prefácio do livro "Roteiros VIII".
No dia seguinte à comunicação ao país do primeiro-ministro, na qual Passos Coelho anunciou que Portugal não iria recorrer a um programa cautelar, Cavaco Silva escreveu: "O que mais me vem à memória, no dia de hoje, são as afirmações peremptórias de agentes políticos, comentadores e analistas, nacionais e estrangeiros ainda há menos de seis meses, de que Portugal não conseguiria evitar um segundo resgate. O que dizem agora?".
"Aquela frase foi tirada precisamente do prefácio que escrevi dos 'Roteiros VIII', já estava lá. Há muito tempo que políticos, analistas e comentadores antecipavam que iria ocorrer um segundo resgate e essa é que é a questão relevante, ocorre ou não ocorre um segundo resgate", sublinhou, em Xangai.
O chefe de Estado acrescentou ainda que poderia haver "duas formas de saída, ou melhor, três: dois tipos de programa cautelar e a saída à irlandesa".
"Neste tempo pré-eleitoral, não podendo dizer mais nada, limitei-me a recordar o que muitos disseram ao longo dos últimos tempos", justificou, em conversa com os jornalistas que acompanham a sua deslocação à China.
A 05 de maio, no Facebook Cavaco Silva acrescentava que era "apenas isto" que respondia a todos que pediam uma reacção sua ao anúncio feito no dia anterior pelo primeiro-ministro e recomendava "a leitura integral – e não truncada – do prefácio" que escreveu em Março para o "Roteiros VIII", disponível no 'site' da Presidência da República.
No prefácio do "Roteiros VIII", que tinha como tema o 'pós-troika', o Presidente da República defendeu que uma decisão sobre um eventual programa cautelar deveria ser tomada "no momento adequado", "evitando alaridos precipitados", e tendo em conta a evolução dos mercados, da situação internacional e o sentimento dos parceiros europeus.
"Agora, há que, evitando alaridos precipitados, acompanhar cuidadosamente a evolução dos mercados e da situação económica e financeira internacional e perscrutar o sentimento dos nossos parceiros europeus para, no momento adequado, tomar a melhor decisão quanto ao caminho a seguir: uma saída 'à irlandesa' ou um programa cautelar", escreveu o chefe de Estado no prefácio do livro.
Num 'capítulo' dedicado ao "regresso ao mercado da dívida pública", o Presidente da República sublinhou que "em termos gerais, para um país que conclua com sucesso um programa de assistência financeira, é possível que um programa cautelar seja preferível a uma saída dita 'à irlandesa'".
Quanto à hipótese de um segundo resgate, Cavaco Silva rejeitou no "Roteiro VIII" liminarmente essa possibilidade, notando que esse cenário, que seria "bastante negativo, quer para Portugal, quer para a União Europeia", está desde o início do ano "completamente excluído".
Lusa/SOL