O antigo deputado do PSD esteve durante cerca de duas horas e meia a responder perante a juíza Cláudia Pina, do 5º Juízo de Instrução Criminal, que o confrontou com a carta rogatória enviada pelo Brasil. Foi a primeira vez que aceitou responder às autoridades judiciais brasileiras. O interrogatório foi pedido pelo Tribunal de Saquarema, onde decorre a instrução do processo da morte da antiga companheira do milionário Tomé Feteira.
“Não praticaria um acto destes por valor algum no mundo, depois de ter sobrevivido a uma leucemia e ter criado uma fundação que serviu para salvar milhares de vidas, nomeadamente no Brasil” – respondeu Duarte Lima, quando questionado se matou Rosalina Ribeiro, como o acusa o Ministério Público (MP) brasileiro.
Acrescentou que tem sido objecto de um “linchamento mediático”, mas por culpa da Polícia brasileira que passou informações aos media. Classificou o assassínio de Rosalina como “um acto abominável” e disse que até tem algumas suspeições de como é que o seu nome foi envolvido neste caso, preferindo não especificar.
Combinaram encontro uma semana antes
Quanto ao móbil do crime apontado pelo MP na acusação – ter morto Rosalina porque ela recusara assinar uma declaração atestando que ele não estava na posse de qualquer valor proveniente das suas contas bancárias –, Duarte Lima disse que “é falso”. E salientou que isso não faz sentido porque as transferências de dinheiro ficam registadas. Recorde-se que, três meses antes da morte de Rosalina Ribeiro, as autoridades suíças enviaram para Portugal, para um processo movido perla filha de Tomé Feteira, registos de transferências bancárias de uma conta de Rosalina e do milionário no banco UBS, que totalizam 5,2 milhões de euros.
Perante a juíza, Duarte Lima justificou esse dinheiro como sendo honorários – dos quais assumiu não haver factura – e adiantou que Rosalina Ribeiro lhe dissera que ainda iria receber mais, quando ela recebesse os 50% da herança de Feteira a que tinha direito.
Para justificar o facto de não haver registos de contactos seus nos telefones de Rosalina no dia em que se encontraram no Rio de Janeiro (7 de Dezembro de 2009), o advogado explicou que tinham combinado tudo antes: a 1 de Dezembro, a partir de Lisboa, combinara com Rosalina que iriam encontrar-se “no Rio, no dia 7, pelas 20h, um quarteirão depois do prédio” do apartamento onde ela ficava. E porque não à porta, tendo em conta que já seria noite? – quis saber a juíza. “Foi assim que ela marcou. Já não era a primeira vez”, respondeu Lima.
Viu entrar Rosalina no carro de Gisele
Pela primeira vez, Duarte Lima avançou que deixou a sua cliente em Maricá, “a 200 metros” do Hotel Jangada, e que a viu entrar no carro da tal Gisele, viatura que tinha uma “tonalidade escura”. Recorde-se que, em Dezembro de 2009, no fax enviado à Polícia brasileira, o advogado tinha descrito que deixara Rosalina “junto do Hotel Jangada” e que o carro de Gisele era cinzento – o que as câmaras de videovigilância ali existentes não ajudaram a comprovar. Sobre Gisele – que a investigação nunca encontrou e que a defesa lançou a dúvida se não seria Michele – Lima disse que foi o nome que “reteve” que Rosalina lhe dissera, mas não pode dizer “com toda a segurança”.
O antigo deputado reiterou que no dia do crime não esteve em Saquarema (onde o corpo de Rosalina foi encontrado e que fica a alguns quilómetros de Maricá, pela mesma estrada de acesso). Descreveu que estivera em Saquarema na véspera, a pedido de Rosalina, para avaliar as propriedades que Feteira tinha nessa região.
Questionado sobre o facto de ter sido multado pelos radares naquela zona, na noite do crime, assumiu as multas. Mas acusou a Polícia de ter trocado a localização dos radares na zona de Maricá para dizer que ele nunca aí estivera e que tinha seguido directamente para Saquarema.
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