‘Clima fiscal’ português atrai reformados franceses

Jean Luc e Catherine estão prestes a entrar na reforma, não falam português mas decidiram ir viver para Portugal, aliciados “pelo clima, mas também pelo clima fiscal”, contam à Lusa.

O casal de franceses vive em Le Mans, a 200 quilómetros de Paris, e está à procura de uma "casinha" algures entre Lisboa e Cascais, que não ultrapasse os 500 mil euros, razão que os levou a visitar a terceira edição do Salão do Imobiliário e do Turismo Português, na capital francesa, que termina hoje.

"Estamos totalmente convencidos. Vamos vender a nossa casa, mas guardar uma residência secundária em França. Temos netos mas, com a internet e o avião, não é muito longe", justifica Jean-Luc.

O casal apaixonou-se por Portugal, um país que visitou várias vezes, por isso decidiu apostar na procura de casa: "Até agora procurávamos sozinhos através da internet. Aqui, na feira, temos um apoio. Ainda não encontrámos a nossa casa, mas falámos com promotores imobiliários e pedimos o que queríamos", revela Catherine.

O casal Lefevre também não fala português, já está na reforma e vai montar um projecto de turismo rural em Alcobaça. Este fim-de-semana deixaram a cidade de Rouen, no norte de França, para se deslocar a Paris e visitar esta feira. 

Já Gilles e Catherine são parisienses habituados aos elevados preços do imobiliário na capital francesa. Quando leram na imprensa que vários franceses se estão a instalar em Portugal, ficaram curiosos e decidiram ir visitar a feira do imobiliário português para perceber por que razão Portugal é retratado como o "eldorado" dos franceses.

"A isenção fiscal durante dez anos é um cálculo muito interessante", admite Gilles, acrescentando que Portugal "é um país bonito, com pessoas simpáticas e não é muito longe para os netos".

Catherine está mais reticente em afastar-se dos netos, por isso, ambos decidiram arrendar um apartamento durante um ano e, se gostarem da vida em Lisboa, depois compram. Agora "vou ter de aprender português".

Também Jean-Claude, de 74 anos, vive em Nîmes, no sul de França, e ouviu falar na "reforma dourada" na comunicação social francesa, tendo decidido deslocar-se a Paris de propósito para visitar a feira.

"Não sou um fanático da isenção de impostos mas, pelo que anunciam em França, os impostos vão ser muito pesados em breve e foi isso que me deu vontade de viver em Portugal. Nunca pensei 'exilar-me' em Marrocos ou na Tailândia, mas Portugal é a Europa", afirma.

A expressão "reforma dourada" tornou-se recorrente "por causa do sol português e, claro, das isenções fiscais previstas pela lei", explica à Lusa Carlos Vinhas Pereira, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Franco- Portuguesa.

"Uma reforma média francesa é de 1400 euros. Com este dinheiro é complicado viver em Paris – ainda que na província seja mais fácil – mas, em Portugal, as pessoas podem comprar ou arrendar um apartamento ou uma casa com mais espaço e beneficiar de um poder de compra, relativamente a França, de mais 25 por cento em Lisboa e de 50 por cento fora de Lisboa. Ao mesmo tempo, podem aproveitar uma isenção de impostos ligados à reforma, dividendos, mais-valias e imposto sucessório", explica.

Por isso, Carlos Vinhas Pereira afasta o termo "eldorado" por estar conotado com a aventura, considerando que "ir para Portugal não é uma aventura, é bom senso. Ainda por cima, há mais de 30 voos por semana a partir de 22 cidades francesas".

Pascal Gonçalves, administrador da imobiliária Maison au Portugal aponta que "a parte fiscal fez com que a imprensa francesa transmitisse uma imagem de Portugal como um destino para a reforma, o que aliado às vantagens fiscais é uma equação ganhadora".

Com o Regime Fiscal dos Residentes Não Habituais, os reformados que queiram instalar-se em Portugal terão uma isenção fiscal pelo prazo de 10 anos, desde que vivam no país por um período superior a 183 dias por ano e não tenham tido residência fiscal em Portugal nos últimos cinco.

Quase dez mil pessoas visitaram a terceira edição do Salão do Imobiliário e do Turismo Português em Paris, que terminou hoje e juntou 140 expositores, refere a organização que espera um forte aumento do volume de negócios no sector.

Lusa/SOL