Guiné-Bissau – esperança e incerteza

A Guiné-Bissau, que foi o ‘calcanhar de Aquiles’ do Império português, tem uma história política difícil nestes 40 anos de existência: Presidentes e chefes de Estado-Maior assassinados impunemente, golpes militares para bloquear eleições de resultados considerados inconvenientes, uma promiscuidade entre militares e crime organizado.

Há mais de dois anos, em Abril de 2012, nas vésperas da segunda volta da eleição presidencial, um grupo de militares, chefiado pelo chefe de Estado-Maior, derrubou e prendeu o primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior. Só uma intervenção enérgica dos países estrangeiros (entre os quais Portugal e os Estados Unidos), responsabilizando as novas autoridades revolucionárias pela segurança do então primeiro-ministro, lhe garantiu a vida.

Sabemos agora que uma potência regional, desconfiada e descontente com o papel do contingente angolano que assegurava a reforma das Forças Armadas da Guiné-Bissau, influenciou e incitou os golpistas para o golpe: e que, ao fim e ao cabo, o golpe estava mais que anunciado. Mas a habitual indecisão e hesitação da chamada ‘comunidade internacional’ incitou os golpistas a concretizar os seus intentos.

Hoje, o que é preciso é evitar a repetição desse episódio. Depois da primeira volta em que o PAIGC, dirigido por Domingos Simões Pereira, alcançou a maioria absoluta no Parlamento, a vitória do candidato do partido nas presidenciais, Mário Vaz, já praticamente garantida por clara maioria, pode ter dois resultados.

Pode ser o princípio de uma estabilização do país, sob a escolha e ratificação populares, um sentido de voto de que a maioria dos eleitores quer permanecer na área da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), e não integrar a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO); e quer, claramente, mandar embora o grupo militar golpista e os seus cúmplices.

Mas pode também ser motivo para um novo golpe dos desesperados que temem pelas consequências da nova ordem e não querem, por ambição e medo, largar o poder.

Na realidade, uma ou outra opção vão estar condicionadas pela atitude externa. É preciso que da União Europeia, da União Africana, da CEDEAO, da CPLP e das Nações Unidas, haja uma voz e uma política unânimes para dissuadir a parte militar que, por razões de ressentimento histórico, quer manter-se na ribalta pela força das armas.

Por isso vão ser decisivos os próximos dias. Se ficarem impunes os incidentes do dia das eleições, com agressões a dirigentes do PAIGC por militares do grupo que ocupa ilegalmente o poder, pode ser um mau sinal.