Os egípcios amam Sisi e podem dizê-lo no boletim de voto

Abdel Fattah El-Sisi é o grande favorito às presidenciais egípcias que terminam hoje. O general que liderou o golpe militar que derrubou o primeiro presidente democraticamente eleito do país, em Julho do ano passado, é um ídolo para aqueles que temiam a agenda islamista de Mohamed Morsi. E conta com o apoio da elite financeira…

Os egípcios amam Sisi e podem dizê-lo no boletim de voto

Por tudo isto Sisi deverá terminar a votação que se iniciou ontem com uma larga vantagem sobre Hamdeen Sabahi, o poeta de esquerda que promete libertar milhares de prisioneiros políticos e revogar a lei que exige aprovação governamental para ajuntamentos superiores a dez pessoas. Claro que a promessa não inclui os membros da Irmandade Muçulmana de Morsi – a perseguição ao grupo islamista, através da promessa de manter a ilegalização do grupo, é dos poucos temas que une os dois candidatos.

A pressão sobre os islamistas da Irmandade e o consenso em torno de Sisi levou a que os salafistas do Nour Party declarassem o apoio ao ex-general, apesar da sua agenda islamista ser considerada mais conservadora do que a da própria Irmandade.

“Eu amo-te” é voto em Sisi

Perante o boicote esperado por parte dos milhões de eleitores apoiantes de Morsi, sobram os votos dos que adoram Sisi. E o entusiasmo é de tal ordem que o líder da Comissão Eleitoral do país veio esclarecer que as regras foram suavizadas para permitir a contagem dos votos de quem expressa a sua adoração no próprio boletim. Assim, um “eu amo-te” ou um coração desenhado junto a um dos candidatos passa a contar como um voto no mesmo.

Uma medida de última hora para impedir a falta de unanimidade constatada no referendo à nova Constituição, em Janeiro. Como vários eleitores declararam o seu amor ao general no boletim de voto, a nova Carta Magna do país ‘só’ foi aprovada por 98% dos votos.

Recuperar o turismo

Depois de proclamada a vitória, espera-se que Sisi assuma a estabilidade do país como uma prioridade, de forma a devolver o crescimento económico a um país que perdeu milhões de turistas nos últimos três anos, desde que se iniciaram os protestos que viriam a acabar com a ditadura de três décadas de Hosni Mubarak.
Para isso continuará a receber os milhões que chegam da Arábia Saudita, Kuwait e Emirados Árabes Unidos desde que o golpe liderado por Sisi afastou o país do caminho islamista. 

nuno.e.lima@sol.pt