Mas nem sempre foi assim: quando era miúdo, detestava aquelas vezes nas férias em que tinha de ir ao mercado de Tavira com os meus pais ou os meus tios, muito por culpa do horrível cheiro a vísceras de peixe que empestava o ar e ofendia as minhas jovens narinas. Até que um dia, precisamente no antigo mercado daquela cidade do Algarve, vi à venda um pequeno tubarão que os pescadores tinham acabado de capturar. Nunca tinha visto um animal daqueles tão de perto.
A partir daí, a minha percepção alterou-se e comecei a tirar partido das visitas. Algum tempo depois, li com interesse uma reportagem na National Geographic sobre o maior mercado de peixe do mundo, em Tóquio. Coincidência ou não, quando lá esteve há tempos, um primo muito próximo lembrou-se de mim e trouxe-me um souvenir.
Nos últimos anos, com a proliferação dos centros comerciais, dos super e dos hipermercados, os mercados tradicionais em Portugal pareciam condenados a uma morte lenta. Em 2000 fiz para a universidade um trabalho sobre o Mercado da Ribeira, em Lisboa, e pude testemunhar a sua decadência. Dir-se-ia que ia ter um final trágico, idêntico ao da Praça de Figueira, cuja estrutura de ferro foi desmontada em 1949 e se encontra ao abandono, tanto quanto penso saber, numa quinta dos arredores de Lisboa.
Felizmente isso não aconteceu. O Mercado da Ribeira acaba de ser totalmente remodelado e convertido numa meca dos gourmets, com restaurantes de chefes famosos a proporem requintadas iguarias a preços sedutores.
Ainda não tive oportunidade de ir ao novo Mercado da Ribeira – e provavelmente não terei tão cedo -, mas parece-me reunir todas as condições para se tornar um caso sério de sucesso. Há uma semana almocei no Mercado de Campo de Ourique, que segue um conceito idêntico, e fiquei encantado com a sua enorme vitalidade. Um e outro são edifícios emblemáticos e verdadeiros pedaços da nossa história. Renovados, trouxeram uma nova alegria à cidade.
Porém, cumpre dizer que não são apenas os 'mercados da moda' que estão na berra. O mercado a céu aberto de Estremoz, onde vou com alguma regularidade, tem crescido a olhos vistos. Começou por ser composto por meia dúzia de banquinhas dispersas. Depois vieram os vendedores de velharias e aos poucos e poucos foi atraindo dezenas de outros negócios. Da última vez que o visitei, encontrei uma diversidade de produtos estonteante. Havia fruta e legumes, queijos e enchidos, mobiliário e livros antigos, plantas e sementes, bibelôs, brinquedos para as crianças, artesanato e até animais vivos – coelhos, galinhas, patos e gaiolas com dezenas de espécies de pássaros. Não consigo imaginar nada mais próximo de uma feira medieval e, no entanto, encontra-se em perfeita sintonia com as tendências mais modernaças do nosso tempo. Os mercados estão na moda – e ainda bem, porque são Portugal no seu melhor.