Francisco Assis, o seu homólogo do PS, diz evidentemente o contrário: que será o Governo quem estará no banco dos réus, tendo de responder pelas "afrontosas" políticas de austeridade.
Ambos têm razão.
As europeias são as primeiras eleições nacionais que António José Seguro disputa como líder do partido (as autárquicas dizem respeito a figuras locais) – e, por isso, são a sua primeira prova de fogo.
Se o resultado for chocho, sobre ele desabarão enormes pressões internas.
Não faltarão as vozes a dizer que é preciso outro líder para disputar as legislativas – e poderá aparecer um candidato forte à sucessão.
Se não ficar acima dos 40%, Seguro dificilmente fugirá a este filme.
Mas também é verdade que as eleições de domingo serão um teste às políticas dos últimos três anos – e esse teste não deixará de ser muitíssimo penalizador para o Governo.
As políticas de austeridade são, por definição, 'impopulares' – e pagam-se caro em votos.
A culpabilização dos governos nas eleições europeias é um facto que se verifica em toda a Europa – e em Portugal, após três anos de troika, a coisa será ainda mais séria.
As europeias são vistas pelos eleitores como umas 'eleições a feijões', pois as pessoas estão-se nas tintas para quem serão os eleitos para Bruxelas.
Que lhes interessa se for Carlos Coelho em vez de Carlos Zorrinho ou vice-versa?
Assim, a única motivação para votar no próximo domingo será penalizar o Governo.
Será mostrar o descontentamento.
Os funcionários públicos, os médicos, os juízes, os militares, os polícias, os professores, os pequenos empresários, os comerciantes, os desempregados, os reformados sentiram-se espoliados e ninguém espera que vão a correr às mesas de voto votar em Passos Coelho e Paulo Portas.
Eles sabem que estão pior, e não querem saber se o país está melhor.
Ora, umas eleições como estas – em que o voto pode ser totalmente livre pois não é preciso fazer cálculos políticos nem votar útil – são o momento ideal para mostrarem a sua irritação.
Para muita gente, o voto no domingo será a expressão primária de sentimentos de revolta.
Simpatizantes do PSD e do CDS, que até admitem dar o seu voto ao Governo nas legislativas, aproveitarão as europeias para exprimir a sua indignação.
E isto coloca a questão decisiva: em que medida estas eleições poderão antecipar o que se passará nas legislativas do próximo ano?
Até que ponto as europeias serão uma espécie de ensaio geral para 2015?
A oposição em peso jura que sim, que uma derrota da coligação PSD/CDS significará a condenação à morte deste Governo – e começará no dia seguinte a exigir eleições antecipadas, dizendo que o Executivo perdeu a 'legitimidade'.
Mas será mesmo assim?
Para o entender, nada melhor do que consultar os resultados eleitorais em europeias e legislativas feitas um ano depois.
Em 1989, o PS teve 29% nas europeias e 29% nas legislativas realizadas a seguir; o mesmo resultado, portanto. Mas, em contrapartida, o PSD passou de 33% nas europeias para 51% nas legislativas (18 pontos de diferença).
Em 1994, o PS conseguiu 35% nas europeias e 44% nas legislativas seguintes (aumentou 9 pontos); já o PSD manteve a mesma percentagem: 34%.
Em 1999, o PS alcançou 43% nas europeias e 38% nas legislativas (perdeu 5 pontos); e o PSD passou de 31% para 40% (subiu 9 pontos).
Em 2009, o PS obteve 27% nas europeias e 28% nas legislativas; já o PSD passou de 32% para 39%.
Como se vê, não é possível tirar quaisquer ilações de umas eleições para outras.
Tudo o que se disser sobre isso não tem qualquer base de sustentação.
Quanto aos resultados, é difícil fazer previsões sobre o que irá passar-se.
Se a abstenção se aproximar dos 70%, como já foi dito, as sondagens que existem sairão completamente baralhadas.
Assim, só pode dizer-se o óbvio: o Governo vai ser fortemente penalizado pela legião de descontentes e o PS vai subir.
Mas vai subir quanto?
E o voto no PS será uma manifestação de confiança em Seguro ou uma forma de penalizar Passos Coelho?
O valor da abstenção e o resultado do PS serão esclarecedores sobre esta dúvida.
Outra certeza é que o PCP sairá beneficiado.
Sai sempre.
Porquê?
Porque os seus militantes são mais combativos, não ficam em casa – e, sendo a abstenção muito elevada, os mesmos votos valem mais em termos de percentagem.
Consultando os resultados de eleções anteriores, o PCP teve sempre mais votos nas europeias do que nas legislativas; exemplos: 14% contra 9% em 89-90, 11% contra 8% nas últimas.
Não falo da extrema-esquerda, pois fragmentou-se muito e chega a estas eleições bastante depauperada.
[Este artigo de opinião foi originalmente publicado na edição impressa do SOL de 23 de Maio, antes das eleições europeias]