Porque quis escrever um romance sobre a Rainha Ginga?
Quis escrever um livro sobre uma determinada época e momento histórico. E contar essa história numa perspectiva africana, a partir da corte da Rainha Ginga.
Fala sobre a história de Angola…
Sobre a História do mundo. De Angola, do Brasil, de Portugal, da Holanda. É ali que se define quem fica com Luanda. Podiam ter sido os holandeses. É um período de construção da História, tudo se decide. Quis mostrar que os africanos tiveram um papel activo em todo esse processo de construção do mundo, das fronteiras de Angola, do Brasil, de Portugal. Tinha a personagem extraordinária da Rainha Ginga e o mundo à volta dela. Era a história que eu queria contar.
Como fez a pesquisa?
Existe um livro extraordinário, a História Geral das Guerras Angolanas, do Cadornega. E há testemunhos da época.
O livro decorre no séc. XVII, o anterior, ‘A Vida no Céu’, no futuro. É uma forma de olhar o presente?
É uma forma de tentar compreender o presente. O presente existe porque existiu um passado. E o futuro ajuda-nos a prever e corrigir erros de hoje.
Numa entrevista disse que este romance contraria a imagem oficial da Rainha Ginga. Em que medida?
Não disse bem isso… O que acontece é que todos os poderes ao longo da história se têm tentado apropriar da imagem da Rainha Ginga, reconstruindo essa imagem à sua semelhança. O poder colonial fez isso e o poder contemporâneo também. A Rainha Ginga é muito mais interessante do que essas visões redutoras.
Este retrato vai surpreender?
Sim. Acredito que virá a ter, no futuro, mais leitores em África do que no exterior. E não apenas em Angola, pois responde a uma demanda do continente de olhar para a história de uma perspectiva interior.
Há quanto tempo pensava escrever este romance?
Desde sempre. Mas só agora tive coragem. É um projecto ambicioso, complexo. Não me achava à altura. Tive que escrever tudo o que escrevi para avançar.