Com base nas origens, personalidade, visual, proezas ou episódios caricatos, demos um cognome a cada um dos jogadores da Selecção. Convidamo-lo a fazer o mesmo.
Hélder Postiga – O pescador
Se não fosse futebolista, Hélder Postiga andaria na pesca com o pai, o mestre Postiga. O avançado da Lazio está convencido disso. Ainda hoje mata saudades, nas férias. Natural das Caxinas, em Vila do Conde, um dia foi com o pai para o mar e trouxeram mil cabazes de sardinhas. Um recorde familiar. Venham mais no Brasil: com 27 golos, é o sexto melhor marcador de sempre com a camisola das quinas.
Nani – O desenrascado
Até à adolescência saltou de casa em casa com a mãe, para enfim se fixar na residência de uma tia, na Amadora. Ia muitas vezes a pé para os treinos em Massamá, mas noutras arriscava ir de comboio, sem bilhete. Fugir ao revisor era para Nani uma espécie de aquecimento, que em alguns dias dava para o torto, como contou numa entrevista ao i. «Eu tinha habilidade para falar e dizia a verdade. ‘Olhe, a minha mãe não tem dinheiro e eu tenho de ir treinar’». Nem sempre resultava. Hoje, pode ir para os treinos do Manchester United de Bentley ou Lamborghini. É escolher.
Cristiano Ronaldo – O desejado
Calma meninas, falamos de futebol. E aquele a quem apelidam de comandante, líder ou melhor do mundo vai ao Brasil como um D. Sebastião. Toda a equipa das Quinas e o país apaixonado pelo fenómeno da bola anseiam pela recuperação plena de Cristiano Ronaldo. Por isso o madeirense do Real Madrid carrega o cognome do rei que era para ter voltado numa manhã de nevoeiro e nunca apareceu. A história irá desta vez, tudo o indica, ao encontro das expectativas do povo. Vivas ao rei desejado!
Wiliam Carvalho – O leão
William Carvalho tinha 14 anos quando o Benfica lhe entrou em casa com um contrato para assinar. Jogava no modesto Mira Sintra, clube da terra onde cresceu depois de ter vindo em criança da Luanda natal. Em cima da mesa uma proposta tentadora, para tantos miúdos irrecusável. Só que Nani era o seu ídolo, o Sporting o clube de coração, e acabou por se negar a assinar. Nada contra o Benfica. Tudo por um sonho de adolescente. Pouco depois, naquele ano de 2006, Nani telefonou-lhe a pedido do Sporting. Oito anos depois estão lado a lado na Selecção.
Rui Meireles – O moicano
É mesmo preciso justificar? Os mais conservadores dirão que o look indígena de Raul Meireles envergonhará Portugal no Brasil. Não vamos dramatizar: quando muito será motivo de chacota e gargalhadas. Goste-se ou não, o médio do Fenerbahçe revela coragem, auto-estima, irreverência e também uma dose de loucura, é certo, atributos que bem falta fazem à Selecção no Mundial, incluindo o último. Até na selfie de grupo com Cavaco Silva ficou bem no papel de moicano divertido. Seria ele o motivo de um sorriso tão rasgado do Presidente?
Eduardo – O animal
É assim que lhe chamam no Sp. Braga, de onde está de saída, e aceitamos a sugestão. Até porque entre os guarda-redes da equipa nacional, Eduardo responde por outra alcunha que vai dar ao mesmo: Terminator. O guarda-redes não só tem um físico que impõe respeito, como é implacável na forma como aborda os treinos.
Éder – O institucionalizado
Éder chegou a Portugal com três anos, vindo da Guiné-Bissau. Em face das dificuldades financeiras, os pais puseram-no em instituições de acolhimento de menores. Dos 8 aos 18 foi criado no Lar Girassol, em Coimbra, e jogava no modesto Adémia quando o Tourizense reparou nele. A ascensão nunca mais parou: seguiram-se a Académica, o Sp. Braga e agora a Selecção.
Rúben Amorim – O humorista
No avião, após o Benfica ter batido a Juventus, Rúben Amorim pegou no microfone da TV do clube. Acusou o fisioterapeuta Telmo de «só tratar o jogador que estiver para ser vendido», agradeceu a Enzo o facto de a equipa ter «jogado com dez» (o argentino foi expulso) e, sempre em tom divertido, questionou Maxi: «Como é que há tantos jogadores do Benfica expulsos e tu aguentas-te em campo?». Já nos festejos do título interrompeu uma entrevista: «Lima, as pessoas já adormeceram». Humor corrosivo.
João Pereira – O casapiano
João Pereira cresceu no Casal Ventoso, nos tempos em que a droga abundava por ali, mas seguiu outro rumo. O hoje lateral do Valência estudou até ao 12.º ano sem nunca ter chumbado e é considerado um dos melhores alunos da Casa Pia. Aos 9 anos entrou no Benfica e ia sozinho de Belém para os treinos, de transportes públicos.
João Moutinho – O baixinho
Romário não é o único, por isso pedimos a alcunha emprestada para João Moutinho. O médio do Mónaco também fica a dever nos centímetros (tem 171, só mais dois do que o brasileiro) e será sempre dos mais pequenos em campo. E se em técnica sai muito a perder, em trabalho de equipa recupera terreno. O que um era arte, o outro é labor.
Rui Patrício – O contrariado
Foi um acaso que o levou para a baliza. O que ele queria em miúdo era jogar à frente, mas o seu pé esquerdo não seria dos mais talentosos. Quando o guarda-redes do seu primeiro clube, o Marrazes, decidiu ir embora, o treinador mandou-o calçar as luvas. Ainda pediu para voltar a jogar com os pés, mas só o voltou a fazer nos treinos. Ao fim-de-semana, Rui Patrício ficava entre os postes e hoje é um indiscutível no Sporting e na Selecção.
Pepe – O ternurento
Com fama (e proveito) de defesa duro, Pepe, o luso-brasileiro do Real Madrid, não brinca em serviço. Habituámo-nos a vê-lo de cabeça rapada e agora exibe uma ‘cabeleira’ farta. Para meter medo aos adversários? Longe disso. «Mudei de visual porque a minha filha gosta de mexer no cabelo». Não esperem a mesma ternura em campo.
Vieirinha – O comprometido
Escolha polémica por ter hipotecado o regresso de Quaresma, Vieirinha passou mais de metade da época lesionado, do final de Setembro até meados de Abril. Mas ganhou o lugar nos 23 com exibições conseguidas na qualificação frente a Azerbaijão, Israel e Rússia. Só se não pudesse agarrá-lo é que o seleccionador o deixaria cair.
Varela – O falso
Não, o extremo do FC Porto não é mentiroso. Varela nasceu no mesmo dia do seu irmão Sílvio, 2 de Fevereiro de 1985. São gémeos. Falsos. Cada um desenvolve-se na sua placenta. É assim em 90% destes casos de ‘dupla gravidez’. São os mais novos de quatro irmãos, de uma família com raízes em Cabo Verde que vive na Charneca de Caparica.
Rafa – O benjamim
Rafa é talvez a principal surpresa na lista final de Paulo Bento. O médio criativo do Sp. Braga, acabado de fazer 21 anos, dá um toque de juventude à Selecção das Quinas, que tem a segunda média de idades mais elevada entre as 32 que vão jogar o Mundial (28,2), apenas superada pela da Argentina (28,4).
André Almeida – O sortudo
André Almeida beneficiou do azar de Sílvio, seu companheiro no Benfica, que se lesionou e estaria certamente entre os 23 convocados. Da opção de Paulo Bento de levar um lateral polivalente para o banco, de modo a ganhar uma vaga no ataque. E agora da inovação de subir Fábio Coentrão para o meio-campo, que pode levá-lo a jogo mais tempo do que seria imaginável.
Beto – O romântico
Especialista em defender penáltis (antes da final da Liga Europa contra o Benfica já tinha defendido cinco num Belenenses-FC Porto), Beto pediu a namorada em casamento no estádio do Leixões, onde jogou de 2006 a 2009. Ela fazia anos e dois companheiros de equipa tocaram a marcha nupcial com latas.
Bruno Alves – O Pé Descalço
Não é metáfora, é para levar à letra. Bruno Alves fez o contrato da sua vida ao trocar o FC Porto pelo Zenit, em 2010, mas um dos contras foi ter de separar-se dos areais portugueses. O central, hoje nos turcos do Fenerbahçe, é louco por jogar futevólei na praia, de pé ao léu, e até já teve um torneio com o seu nome na Póvoa de Varzim, onde nasceu.
Miguel Veloso – O Viciado
Os jogos de vídeo retêm Miguel Veloso horas em frente ao ecrã, de comando na mão. Na consola do médio do Dínamo Kiev entram jogos de guerra e de futebol, que podem envolver disputas online. Durante o estágio nos States, Nani sofreu na pele com o vício do amigo e foi esmagado nos relvados virtuais: seis jogos, seis derrotas.
Hugo Almeida – O coleccionador
De saída dos turcos do Besiktas, Hugo Almeida adora colar os cromos dos Europeus e Mundiais na caderneta. A febre começou na adolescência e, tantos anos depois, já não é a primeira vez que figura ele próprio entre os cromos. É o número 525 na colecção do Brasil-2014. E com o novo bigode deve estar mais difícil de sair.
Fábio Coentrão – O traquina
Os pais de Fábio Coentrão emigraram para França quando ele tinha 13 anos e deixaram-no ao cuidado de uma tia, nas Caxinas, terra de futebolistas. Não ligava à escola, só à bola. Um dia apareceu no telhado da sala de catequese. «Era especialista em subir os tubos da canalização», contou ao SOL, em 2010, o padre da paróquia.
Luís Neto – O desconhecido
Um dos dois convocados que nunca jogaram nos três ‘grandes’ (o outro é Rafa), Luís Neto é menos mediático por esse motivo. E ao contrário de Pauleta, que também nunca passou por Benfica, Sporting ou FC Porto, nem sequer marca golos. Mas é um central competente, nascido na Póvoa de Varzim, com passagens pelo Nacional e por Itália, e que agora alinha nos russos do Zenit.
Ricardo Costa – O omnipresente
Ricardo Costa é sempre uma dúvida até à última hora, mas o seu nome acaba por nunca ficar de fora. O defesa do Valência tem a seu favor a polivalência e também um forte espírito de grupo, que tanto Scolari como Queiroz e agora Bento valorizaram. E apesar de pouco utilizado, entre os 23 convocados para o Brasil só Ronaldo lhe chega aos calcanhares: são os únicos com três presenças em Mundiais.