Em entrevista à Lusa, este consultor de uma das principais empresas de consultoria na área energética explica que foi a excessiva preponderância dada à Petrobras na gestão dos projetos brasileiros no petróleo que originou os vários atrasos com que o Brasil se tem confrontado na produção, e acrescenta esperar que a Sonangol não siga o mesmo caminho, porque senão os investidores vão, pura e simplesmente, investir noutro sítio.
"Se realmente encontrar grandes reservas no pré-sal [uma camada do solo, imediatamente após o sal petrificado que compõe o fundo dos oceanos], Angola devia olhar para o Brasil e ver como se desenvolveu a exploração, para poder comercializar de forma mais eficiente e garantir que os erros do Brasil não acontecem também em Angola", argumentou o analista, lembrando que "o ambiente em que as empresas operam é cada vez mais desafiante, complexo e técnico".
Por isso, sublinha, "se [as autoridades] tornarem as coisas mais e mais complicadas para as grandes companhias petrolíferas internacionais, elas vão concluir que é muito caro e difícil operar no país, e que não faz sentido economicamente" investir em Angola.
Virenda Chauhan, que segue de perto a evolução do setor da energia em países como Angola, Brasil e Moçambique, explica, em entrevista à Lusa, que "as maiores companhias petrolíferas internacionais, como a Shell, Total ou Eni, ou seja, as que têm direitos de exploração de uma perspetiva do investidor, estão a olhar para os números e se a Sonangol operar como a Petrobras, dizendo 'quem manda somos nós', então Angola torna-se cada vez menos atrativo para os investidores", explica.
Isto porque "a perfuração em águas profundas precisa de injeções enormes de capital, e exige um horizonte de investimento de pelo menos uma década, por isso se a Sonangol ou a Petrobras tornarem o processo menos atrativo, as empresas vão ter dúvidas sobre o risco a que expõem os investidores" e podem optar por investir noutra área geográfica.
O Brasil descobriu há vários anos um conjunto vasto de reservas no pré-sal, uma espécie de camada por baixo do fundo do mar, a 7 quilómetros de profundidade, ou mais, e as autoridades angolanas estão esperançadas, alicerçadas numa tese geológica que diz, em resumo, que há semelhanças entre as costas do Brasil e de Angola neste âmbito, que o 'off-shore' angolano seja igualmente rico nestes recursos naturais.
Lusa / SOL