Crime de honra choca Tunísia

Eya, tunisina de 13 anos, foi queimada viva pelo pai por ter voltado da escola a pé acompanhada por um colega. O crime deu-se no dia 28 de Maio, nos arredores da capital Tunes – a menina foi internada com queimaduras de quarto grau e não resistiu aos ferimentos, acabando por morrer a 7 de…

Estes tipos de crimes não são comuns na Tunísia, que tem a mais avançada Constituição do mundo árabe, reconhecendo direitos iguais a homens e mulheres. Adultério – ou a simples suspeita de adultério – são suficientes para uma família mais radical considerar ter a honra ‘manchada’. Mas Eya era só uma adolescente de 13 anos, boa aluna, que regressava a casa com outro estudante. Ainda não se sabe o que levou o pai da jovem, vigilante numa escola, a regá-la com gasolina e atear-lhe fogo, até porque os vizinhos não lhe atribuem fanatismos. Mas foi contra o fanatismo que centenas de pessoas protestaram no centro de Tunes, com cartazes a dizer ‘Não à violência contra as mulheres e as crianças’, ‘Eya é vítima do extremismo e do fanatismo’. 

Segundo o site tunisino Kapitalis, há duas versões para a morte de Eya. A primeira dá conta de um acidente, segundo uma tia da jovem: “Foi por causa de um cigarro que ele estava a fumar ao pé de um bidão de gasolina. Quando começou o fogo, ele fez de tudo para salvar a filha cobrindo-a com um cobertor”. Outro relato, de uma vizinha, vem contradizer esta versão. “Por acaso eu estava à porta de casa. A Eya estava a ser arrastada como um trapo pelo pai, que lhe batia e a estava a insultar. Uns minutos depois, ouvimos uns gritos abafados – ‘Papá! Papá!’. A menina estava cá fora, envolta em chamas”, avançou a mulher. 

O pai de Eya também esteve hospitalizado, por causa de queimaduras, mas regressou a casa. Está detido enquanto prossegue a investigação e já foi submetido a uma avaliação psiquiátrica. 

ana.c.camara@sol.pt