Gonçalo Sardinha: Alimentos que tratam da saúde

Não é fácil imaginar Gonçalo Sardinha de fato e gravata, atrás de uma secretária. No entanto, foi esta a sua vida até há uma dúzia de anos. Nessa altura decidiu dar o ‘grito do Ipiranga’ e deixar Portugal, juntamente com o filho, de apenas um ano, e a mulher. Mas se pensa que este foi…

A família Sardinha decidiu rumar à Índia, sem trabalho ou qualquer projecto profissional, apenas para reencontrar um sentido para a vida. “O meu filho nasceu em 2005 e eu questionei-me sobre o que teria a ensinar a um recém-nascido. Fiquei um bocado desiludido quando vi que não tinha muito para lhe dar… Então, em Agosto de 2005, partimos para a Índia. O nosso objectivo era ficarmos um ano mas a nossa paixão pelo país foi de tal ordem que decidimos ficar três”.

Durante esse período a família ficou em mosteiros, onde retribuía o alojamento e a alimentação com pequenos trabalhos necessários para a comunidade. O resultado foi serem lentamente introduzidos na vida dos templos, aprendendo hábitos novos como o ioga, a meditação ou diversos rituais alimentares.

Acabaram por voltar a Portugal mas não seria por muito tempo. Ficaram apenas nove dias até empreenderem nova viagem, desta vez até aos Estados Unidos. O objectivo era fazerem um retiro detox para enfrentarem a vida em Portugal, a partir do zero. “Nos Estados Unidos só comíamos produtos alcalinos, tirámos o sal, e embarcámos numa dieta só à base de ervas. Entrar numa dieta alcalina, significa comer bem e pouco. Quando se começa a comer bem, começa-se também a ter menos necessidades nutricionais. Se comer arroz e massa, precisa de muita porque em termos nutricionais não tem praticamente nada, mas se comer aipo, espinafres, acelgas, aquilo está tão cheio de nutrientes que precisa de pouco. Depois bebíamos sumos de spirulina e clorela e shots de erva trigo. Ao nível de saúde foi um salto para outra dimensão e quando vi a nova dimensão da minha saúde, do meu estado físico, psíquico, disse para mim mesmo, 'não posso ficar quieto com toda esta informação e energia dentro de mim'“. 

Ficou tão entusiasmado que em menos de três meses estava novamente em Portugal, a dar workshops de culinária vegetariana e de culinária crua. “Esta alimentação – mais radical – consiste em fruta, vegetais, raízes, desidratados como as bagas de goji… Na verdade é tudo o que não ultrapassa os 45º porque a partir dessa temperatura as enzimas começam a morrer e, quando isso acontece, o nosso corpo tem que produzir enzimas digestivas, ou seja, desgastamos para digerir, o que é um paradoxo porque nós comemos para ter energia!”, explica. E, ao contrário do que imaginou, não foram poucos os que aderiram a estas iniciativas. Em apenas um ano, tiveram 800 pessoas a frequentar habitualmente os workshops. Mas daí até à Iswari nascer, foi preciso um empurrão, um empurrão dado por essas mesmas pessoas que iam habitualmente aos cursos que ministrava.

“Começaram a dizer-nos 'mas por que é que vocês não lançam uma marca?'. Nós dizíamos para irem à internet comprarem… Só que as pessoas queriam comprar em Portugal e não havia. Foi então que criámos os primeiros pacotinhos Iswari. Todo o desenho foi feito no meu computador de casa e era eu e o meu filho que embalávamos os produtos e os vendíamos aos amigos”. E que produtos são esses? “São super-alimentos, ou seja, é um alimento que tem uma relação muito boa entre a carga calórica e a carga nutricional”. Gonçalo conta-nos que, por exemplo, o Camu Camu é a maior fonte de vitamina C do planeta; as sementes de Chia são um poderoso antioxidante, ricas em proteínas e a maior fonte de Omega 3 que existe; o Açaí é um dos maiores antioxidantes que se conhece… Resumindo, a Iswari comercializa cerca de 36 produtos biológicos, “cada um com as suas qualidades…”.

O ano de 2010 marcou o arranque da marca simultaneamente em Portugal e na Irlanda e hoje já está presente em mais de 14 países, sendo líder no mercado nacional. Constantemente a inovar, a Iswari prepara-se para lançar no mercado mais duas referências, que se vão juntar às outras 36: cacau pepitas com açúcar de coco e proteína de ervilha, “80% de proteína vegetal, de muito fácil assimilação. Depois vamos estar presentes na maior feira do mundo de produtos biológicos, na Alemanha, em 2015”.

Com tanta inovação, seria de esperar um dedicação total à empresa, mas Gonçalo relembra os princípios que aprendeu na Índia: “Não estou 100% dedicado a isto, estou para aí uns 50%, os outros 50% são para a família. Afinal, ninguém pode ficar a perder…”

patricia.cintra@sol.pt