«Se as coisas no país evoluírem de uma tal forma que um dia seja absolutamente claro que há muita gente que desejava mesmo e deposita muita confiança em mim, e por um conjunto de circunstâncias quer que eu vá, se eu sentir que isso é um movimento grande, é evidente que dificilmente uma pessoa pode defraudar as pessoas e fugir» – diz, cândida e engasgadamente, Rui Rio. E ele próprio: quer ou não quer concorrer a Belém? E ao partido? Ainda não sabe? Está à espera de um ‘movimento grande’ que não se vislumbra para formar a sua vontade? Está a esmolar uma ‘vaga de fundo’ inexistente como pretexto para avançar?
Sejamos claros: admitir o cenário de se candidatar à Presidência parece ego a mais para tão limitado currículo político. Rui Rio não foi mais do que presidente de Câmara e não resiste à comparação com figuras que o PSD pode apoiar para Belém como Marcelo Rebelo de Sousa ou Durão Barroso, que têm outra craveira, outro estatuto e outra carreira política.
Tal como Marinho Pinto, Rui Rio é um praticante da oratória populista, justicialista e com uns laivos antipartidos, politicamente correctos e eleitoralmente pagantes. Diz Rio: «Para mim, é claro que se não introduzimos reformas muito profundas no regime ele vai cada vez enfraquecendo mais». E acrescenta: «Há uma desconfiança da sociedade relativamente à política». Marinho não diria melhor.
Que reformas muito profundas? Rio tem a particularidade de só fazer diagnósticos gerais, de raramente apresentar soluções. Quando o faz, é para propor que não haja eleições nas autarquias com desequilíbrios financeiros e elas sejam geridas por comissões administrativas. Ou para sugerir que a abstenção e os votos brancos e nulos possam ‘eleger’ lugares vazios no Parlamento. Assustador, no mínimo.
jal@sol.pt