‘Einstein não era mau aluno, mas tinha ideias muito fixas’

Apaixonado desde sempre pela teoria da Relatividade Geral de Einstein, Pedro G. Ferreira decidiu-se a explicá-la em livro. O resultado foi Uma Teoria Perfeita. Concluído o curso de Física no Técnico, em Lisboa, Ferreira fez o doutoramento no Imperial College e agora lecciona Astrofísica em Oxford, onde, diz, orgulhoso, está numa das poucas universidades no…

Compara a teoria da relatividade às Suites de Bach ou aos filmes de Antonioni. Porquê?

Há várias razões. Primeiro, porque as pessoas têm uma certa paixão/fixação/obsessão pela relatividade geral, do mesmo modo que têm por certas obras de arte. Segundo, porque é a obra de uma só pessoa (Einstein), criada em 1915. Não é como várias outras teorias físicas, o fruto de uma colaboração entre vários cientistas. E finalmente, porque as pessoas que trabalham na minha área têm uma opinião quase estética sobre a Relatividade Geral – usa-se muito a expressão 'elegante', 'bela' etc.

Depois da leitura do livro, o leitor pode deixar cair muitos mitos ligados a Einstein. Por exemplo, o de que ele foi um mau aluno. Que outros mitos podem cair relacionados com ele?

E difícil de dizer. Há uma certa hagiografia de Einstein (que é completamente merecida) mas acho importante ter a noção de como é que ele era na realidade. Ele não era mau aluno, mas tinha ideias muito fixas. Antagonizou alguns professores ao mesmo tempo que começava a ter ideais verdadeiramente geniais. Criou a teoria de Relatividade Geral ao mesmo tempo mas foi bastante casmurro quando a geração seguinte começou a descobrir coisas novas.

Crê que Einstein acabou por tornar-se uma espécie de pop star, a primeira da ciência?

Tornou-se numa verdadeira vedeta, de renome internacional, conhecido e adorado em todo o mundo. Houve outras vedetas na história da ciência mas havia qualquer coisa de global na fama de Einstein e na maneira como entrou na cultura popular.

Diz, ainda, que a teoria da relatividade é a grande referência da física contemporânea. Mas há quem ensaie alguma contestação, como o português João Magueijo, que até escreveu Mais Rápido que a Luz, a contradição de um dos postulados mais conhecidos da teoria. Quem mais começa a contestar a relatividade?

Não é verdade. O João é um grande fã da teoria de relatividade e o que ele faz é o que todos fazemos: questionar os fundamentos das teorias vigentes. É uma atitude sensata e inevitável. No penúltimo capítulo, eu discuto as várias tentativas de modificar a teoria de Einstein.

A impossibilidade de a velocidade da luz ser ultrapassada não retira a hipótese de viagens espaciais tripuladas para outros sistemas que não o nosso?

Não, não retira. Há outras hipóteses (como viajar perto da velocidade da luz ou deformar o espaço e o tempo para criar wormholes), mas é tudo muito especulativo neste momento.

Lecciona Astrofísica em Oxford. A base das aulas é a teoria da relatividade?

Sim, dou uma cadeira de Relatividade Geral no terceiro ano do curso de Física cá. Oxford é uma das poucas universidades do mundo onde Relatividade Geral é uma cadeira obrigatória em Física. Temos muito orgulho nisso.

As experiências do CERN têm confirmado muitas hipóteses da física contemporânea.

O que falta descobrir? A física é um capítulo encerrado da ciência?

Nem pensar! Ainda há muito para perceber. Ainda não percebemos bem por que é que as partículas têm as massas que têm (o bosão de Higgs ainda é um pouco misterioso), ou porque é que 96% do universo está sequestrado em matéria e energia escura. Há muito que pensar, medir e discutir. 

ricardo.nabais@sol.pt