“Mais de 100 mil pessoas encontram-se temporariamente desalojadas, pelo menos 1.129 pessoas foram mortas e o conflito já feriu gravemente 3.442 pessoas”, são estas as estimativas “conservadoras” feitas pela Organização Mundial de Saúde, entre meados de Abril até ao dia de hoje.
"Os relatos dos combates estão cada vez mais intensos nas regiões Donetsk e Lugansk, com ambos os lados a utilizarem armamento pesado, em áreas perto de edifícios, incluindo artilharia pesada, tanques e mísseis", disse a alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Navi Pillay.
O relatório documenta que os grupos armados continuam a raptar, a deter, a torturar e a executar pessoas, exercendo “o seu poder de forma abrupta e cruel”. A impunidade crescente, nas áreas sob controlo dos grupos armados, transformou o Estado de Direito numa completa anarquia. Exemplo disso mesmo são as 812 pessoas que foram raptadas, presas ou detidas, por estes grupos, desde meados de Abril. “Alguns dos detidos pelos grupos armados são políticos locais, funcionários públicos e trabalhadores da indústria do carvão local, mas a maioria são cidadãos comuns, incluindo professores, jornalistas, membros do clero e estudantes", refere o relatório.
Pelo menos cinco jornalistas já foram mortos. Recentemente uma jornalista ucraniana foi sequestrada em Donetsk pelos rebeldes pró-Rússia e um jornalista russo foi detido pelas forças armadas ucranianas que de seguida o enviaram para a Rússia.
Novas alegações sobre execuções ilegais surgiram na cidade de Slovyansk. Após a retirada dos grupos armados da cidade, a 5 de Julho, um jornalista descobriu documentos que provam que os rebeldes praticam autênticos “tribunais militares” e sentenciam pessoas à morte. Foram encontradas “ordens de execução”, assinadas pelos “comandante-chefe” dos grupos armados.
Calamitosa economia
O relatório observa ainda o impacto da guerra na economia da Ucrânia. O país enfrenta uma grave recessão económica e a situação no Leste do país, centro da indústria pesada, é “calamitosa”. Muitos edifícios, públicos e privados, foram destruídos, bancos e instituições financeiras encerram diariamente e as grandes empresas industriais e de minas foram severamente danificadas. “O impacto económico no resto do país será severo”, anuncia o relatório.
O Governo ucraniano estima que a revitalização e a reconstrução do Leste do país custarão aos cofres do Estado cerca de 600 milhões de euros e que esse dinheiro será coberto através de cortes nos benefícios sociais da população.
O Governo "tem de resolver os problemas sistémicos mais amplos que o país enfrenta no que diz respeito à boa governação, ao Estado de direito e os direitos humanos. Isso exige reformas profundas, especialmente agora que a Ucrânia tem aspirações europeias e quer estabelecer uma sociedade democrática e pluralista ", diz o relatório.
"O terrível desastre do avião da Malaysian Airlines, a 17 de Julho, surgiu pouco depois da data de fecho deste relatório", informou Pillay. "Esta violação do direito internacional, dadas as actuais circunstâncias, pode mesmo significar um crime de guerra. É imperativo que seja feita uma investigação imediata, eficaz, independente e imparcial”, concluiu a alta comissária da ONU para os Direitos Humanos.