Nessa altura, chegavam ao seu final dois ciclos políticos: o de 10 anos de cavaquismo à frente do Governo do país e o dos dois mandatos de Mário Soares em Belém. Agora, em 2016, encerram-se os 10 anos de cavaquismo na Presidência e é muito provável que termine, em 2015, o ciclo da coligação PSD/CDS que teve de governar o país com duras políticas de austeridade e sob o policiamento externo da troika.
Tal como há 20 anos, o resultado das legislativas irá condicionar o desfecho das presidenciais, três meses depois. Daí que faça todo o sentido político interligar as duas campanhas e tentar potenciar mutuamente as mais-valias de cada uma das candidaturas, a S. Bento e a Belém. E, neste ponto, não deixa de ser irónico ver António Guterres – que, há 20 anos, enquanto líder do PS e da Oposição, resistiu até ao limite à candidatura presidencial de Jorge Sampaio, vindo depois a beneficiar do ticket ganhador com ela – estar agora na posição de precisar ele, para a sua campanha, do apoio político incondicional do candidato do PS às legislativas de 2015.
Mais extraordinário, no entanto, é ver Santana Lopes a repetir as pisadas de Jorge Sampaio há 20 anos. «Seria estimulante concorrer a Belém contra Cavaco», avançou Sampaio ao Expresso em Fevereiro de 1994, como forma de chamar a si a iniciativa política e marcar o seu terreno presidencial. «Guterres é altamente estimulante para quem for o candidato do centro-direita», copia agora Lopes. Sampaio, que era para ele o Belzebu de Belém causador de todos os seus males políticos, passou repentinamente a fonte de inspiração.
No seu jeito de achar que a humilhação eleitoral de 2005 (dele e do PSD…) foi fruto de circunstâncias raras e que as sondagens sempre desfavoráveis à sua figura são resultado de manipulações várias, Santana aponta a Durão Barroso a sentença que recusa admitir para si próprio: «Ele tem a noção de que o eleitorado português ainda não o recebeu de volta». Santana, claramente, não tem tal noção.
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