Numa pequena tribuna popular, usando megafone, os organizadores do protesto, que nasceu na rede social Facebook, foram expondo aquilo que consideram ser uma "intervenção ilegítima" do Estado numa empresa privada.
Vítor Lima, um dos organizadores e economista reformado, criticou que seja usado dinheiro do Estado para resgatar o banco, lembrando que na semana em que se disponibilizaram 4 mil milhões de euros para capitalizar o Novo Banco (que resultou da cisão do BES) foi retirado o complemento social a milhares de idosos.
Enquanto fazia a sua intervenção, o economista reformado era ladeado por uma faixa dizendo "a divida de hoje é o roubo de ontem pela classe dominante" e um cartaz onde se podia ler "BES – corrupção sistémica".
Já a professora Isabel Pires, outra das organizadoras do protesto, explicou que o objectivo é que esta iniciativa não seja um protesto casual, mas que se criem grupos de trabalho para fazer mais reflexões e preparar novas intervenções.
Após as intervenções dos organizadores, quem se encontrava no protesto foi convidado a falar, mas de início a timidez fez com que adesão fosse pouca.
Um dos manifestantes tomou a palavra para dizer que, mais do que contra a solução para o banco, está contra o que fizeram aos pequenos accionistas, como é o seu caso.
Segundo este investidor, foi depois de ter ouvido as garantias sobre a solidez do BES pelas vozes do primeiro-ministro, Passos Coelho, e do governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, que resolveu investir no banco.
Eduardo Azevedo explicou depois à Lusa que foi já em Julho, após "declarações cheias de advérbios como 'absolutamente' e 'totalmente'" sobre a saúde do banco fundado pela família Espírito Santo que tomou a decisão de investir 30 mil euros em acções, esperando recuperar o dinheiro em alguns anos.
"No domingo, o (des)governador não teve uma palavra para com os pequenos accionistas, nem um pedido de desculpas", referiu este investidor, que garante que vai agora para Tribunal. Pelo menos, disse, esperava que fosse dada uma compensação aos pequenos accionistas, como acções do Novo Banco ou a compra de acções a preço de desconto.
Outro popular disse que este caso do BES é só mais um sintoma de um "sistema económico que esmaga milhões de pessoas", apenas preocupado com os lucros.
Já o reformado José Maria disse à Lusa que veio até à Avenida da Liberdade para ver como corria o protesto e disse que, perante a pouca adesão, se "sente triste com o povo português, que é amorfo".
Questionado sobre a pouca adesão a esta iniciativa, que juntou cerca de 60 pessoas, o organizador Vítor Lima considerou que é a demonstração de como as pessoas "estão descrentes" e de em Portugal ser "pouco praticada a auto-organização".
Este protesto teve a participação de pessoas ligadas ao Movimento (d)Eficientes Indignados e a movimentos de reformados e apareceram também membros do Movimento Alternativa Socialista, o que neste último caso levou alguns organizadores a dizerem que não gostavam de ver ali porque não querem a acção conotada com qualquer partido político.
No domingo, o governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, fez a sua primeira declaração ao país em quatro anos de mandato para dizer como se sentiu traído pela gestão de Ricardo Salgado, acusando o Grupo Espírito Santo de ter desenvolvido "um esquema de financiamento fraudulento".
O Governador informou ainda que, nesse dia, o Banco de Portugal tomou controlo do BES e anunciou a separação da instituição.
No chamado banco mau ('bad bank'), um veículo que mantém o nome BES mas que está em liquidação, ficaram concentrados os activos e passivos tóxicos do BES, assim como os accionistas, que perderam tudo ou quase tudo.
No 'banco bom', o banco de transição que foi chamado de Novo Banco, ficaram os activos e passivos considerados não problemáticos, o qual recebe uma injecção de 4,9 mil milhões de euros do Fundo de Resolução bancário para se capitalizar.
Lusa/SOL