Do avião que caiu em Santos à morte que muda a campanha no Brasil

A notícia de que um jacto particular teria caído esta manhã em Santos, na zona litoral de São Paulo, deixou os jornalistas em alerta. Primeiro, diziam, porque não é normal ver jactos particulares sobrevoar aquela zona do estado de São Paulo. Depois, porque Eduardo Campos, o número um da lista do PSB (Partido Socialista Brasileiro)…

Do avião que caiu em Santos à morte que muda a campanha no Brasil

Passavam poucos minutos das 11 horas locais. (15 horas em Lisboa). As televisões entravam em directo dando conta da queda do aparelho. Tudo muito genérico, ainda. “Jacto particular cai em Santos”, lia-se no rodapé de uma delas. Eduardo Campos, a esta hora, já devia estar a fazer campanha em Santos. Mas não estava. Fontes da estrutura socialista que acompanhavam o candidato garantiam não ter notícias de Campos. Nem dos seus assessores que teriam partido do Rio de Janeiro rumo a São Paulo. A tese de que o ex-governador de Pernanbuco estaria naquele avião começa a ganhar consistência. Mas nenhum órgão, por enquanto, avança com o título que todos temiam: “Eduardo Campos morre em acidente de avião”. 

No Twitter, nem uma única entrada sobre o assunto. No Facebook, idem aspas. Na página oficial da candidatura de Eduardo Campos, a nota de agenda era a mesma. “O que dizem os assessores?”, questionavam os jornalistas. A última esperança residia nos assessores. Era preciso confirmar a notícia para que ela fosse notícia. E Marina Silva, a candidata a vice-presidente do Brasil na lista de Eduardo Campos? Também ia estar em Santos? Segundo a página do candidato na internet, não. A evangelista a quem Campos se uniu para entrar na corrida às eleições não estaria presente, apesar de ter sido convidada por Campos a viajar no pequeno avião, segundo avança o Estadão. 

Em off, fontes ligadas a Campos começavam a deixar sair o ambiente que se vivia na campanha do PSB. Campos estava naquele jacto privado. As televisões brasileiras, e os jornais, davam um grande passo na notícia: “Eduardo Campos viajava no avião que se despenhou em Santos”. Deixavam em aberto a possibilidade do candidato ser um dos sobreviventes, mesmo quando fonte dos bombeiros, citada por várias edições online de jornais, assegurava que entre os que seguiam a bordo não existiam sobreviventes. Por volta das 12h30, em São Paulo, chega a confirmação através de Walter Feldman, deputado em Brasília eleito pelo PSB. Eduardo Campos, candidato do PSB à presidência do Brasil, era um dos ocupantes do pequeno jacto que se despenhou na manhã desta quarta-feira, em Santos, quando se preparava para aterrar. 

A partir daqui, ninguém sabe o que vai acontecer. Dilma Rousseff, candidata à reeleição pelo PT (Partido dos Trabalhadores), suspendeu a agenda de campanha, fez uma comunicação ao país, na qual lamentou a morte de Campos, e decretou três dias de luto. Aécio Neves, candidato do PSBD (Partido Social Democrata Brasileiro) e amigo pessoal de Campos, também suspendeu a agenda. Lula da Silva já lamentou a morte do candidato que foi seu ministro da Ciência e Tecnologia entre 2004 e 2005. O PSB tem até 10 dias para indicar quem sobre na lista dos candidatos do PSB ao Planalto. Marina Silva, da Rede Sustentável, poderá subir a número um na candidatura do PSB. O mesmo é dizer que a até agora candidata a vice-presidente do Brasil pode passar a candidata a Presidente do Brasil, contra Dilma Rousseff e Aécio Neves. 

O xadrez da campanha alterou-se significativamente com a morte de Eduardo Campos e a possível subida de Marina Silva. Em 2010, Marina conseguiu tantos votos (19%) que obrigou Rousseff a comemorar vitória só no segundo turno.

Nas eleições deste ano, Eduardo Campos aparecia como o terceiro candidato mais forte na intenção de voto dos brasileiros. O Financial Times lembra a hipótese avançada por alguns analistas de que a candidatura de Campos e Marina poderia unir-se a Neves numa segunda volta para derrotar Rousseff. Nos bastidores das campanhas os cenários já poderiam estar pensados e acertados a dois meses de uma das eleições mais importantes na história da democracia brasileira. Mas o certo é que a partir de agora volta tudo à estaca zero na corrida presidencial do Brasil, país que terá de retomar a campanha e voltar à rua depois da morte de um candidato presidencial. 

ricardo.rego@sol.pt