2. Posto isto, convém ser muito prudente na análise política dos recentes eventos (e ainda em curso) na faixa de Gaza: neste caso, é inútil encontrar “santos”, “vítimas convenientes” ou “ injustiçados permanentes”. Temos, pois, assistido a uma deplorável condenação do Estado de Israel – e a uma protecção do Estado da Palestina (leia-se, dos terroristas do Hamas) como se fossem inocentes ou meras vítimas passivas. Claro que é muito fácil comentar e censurar quando se escrevem as presentes linhas a partir de um grande país pequeno, situado no extremo oeste do continente europeu, distante das vivências próprias dos dois Estados envolvidos. A razão, na discussão sobre os acontecimentos israelo-palestinianos, sempre foi preterida a favor das emoções e das conveniências de alguns. Tentemos, pois, na presente análise, manter-nos fiéis à razão.
3. Em primeiro lugar, antes de condenar o Estado de Israel, há que recordar que este é a concretização de uma aspiração legítima da Nação judaica: fazer corresponder à sua Nação, um Estado soberano seu (pretensão que lhe foi negada durante muitos e muitos anos ao longo da História!). Sabemos que Israel é, desde a sua fundação, um Estado sob permanente ameaça, nunca logrando o reconhecimento ou mesmo a compreensão dos seus vizinhos islâmicos. Ora, um Estado que sabe que a qualquer momento poderá ser atacado, poderá ceder ou flexibilizar a sua defesa? Podemos exigir – moral e juridicamente – que Israel fique, eterna e simpaticamente, à espera de ser bombardeado por organizações terroristas que conquistaram o poder na Palestina? Que, ainda por cima, revelaram má fé negocial, pois, quando o Hamas iniciou o ataque, ainda se encontravam a decorrer negociações entre os governos dos dois Estados, apadrinhadas pelos EUA? Já se percebeu que, enquanto a Palestina estiver refém dos terroristas do Hamas, é impossível chegar a um acordo de pacificação sério e efectivo – qualquer acordo será apenas uma manobra dilatória para o Hamas preparar o ataque seguinte, ainda mais mortífero e destruidor. Poderemos, pois, exigir a alguém ou a algum Estado que aguente sucessivos ataques contra o seu território e os seus cidadãos?
4. Pois bem, aqui chegamos às duas últimas (duras) verdades para as quais chamo a atenção dos mui sábios leitores do SOL. A primeira tem que ver com o discurso adoptado por uma certa imprensa (dominante, infelizmente); a segunda com o aproveitamento político da situação israelo-palestiniana. Comecemos, então, pela comunicação social: alguns “mas media” têm feito, acriticamente, o jogo dos terroristas do Hamas. Um dos clássicos modus operandi dos terroristas é lançar o caos, provocar o adversário, esperando a sua reacção – e depois, recorrer à vitimização. Ora, as imagens – dilacerantes e que nos chocam – que têm sido difundidas são escolhidas a dedo pelos terroristas para ganharem a misericórdia internacional. E, no ínterim, face à impotência e inacção internacionais, os terroristas tornam-se cada vez mais fortes. Logo, todos nós deveríamos, em vez de seguirmos a multidão e condenarmos Israel, estar a condenar veementemente os terroristas do Hamas e todos os que na Palestina o apoiam – que não tiveram o mínimo pudor de utilizar seres humanos inocentes para prosseguir os seus fins políticos.
5. Por último, importa alertar para que as manifestações anti-Israel e anti-semitas que têm ocorrido um pouco por toda a Europa são muito (mas mesmo muito) perigosas. Primeiro, porque são organizadas por grupúsculos de extrema-esquerda para quem apoiar grupos terroristas da Palestina é uma forma eficaz de lutar contra “ o sistema”, apregoando a revolta e a violência onde reina a paz social. Por outro lado, estes grupúsculos de extrema-esquerda juntam-se a outros grupúsculos de extrema-direita, apregoando os seus ideias anti-semitas, todo o seu ódio contra os judeus, motivado por razões que eles próprios não conhecem (percebem agora porque é mais fácil o BE se juntar ao PNR do que ao PS?). Convém recordar que o anti-semitismo primário sempre foi o primeiro passo para a tragédia. O respeito tem de ser sempre a chave, o primeiro passo para a solução dos problemas entre os povos – e cada cidadão tem o dever de tratar com igual respeito e consideração o seu semelhante.
6. Será que algum dia haverá paz entre Israel e a Palestina? Julgamos que a resposta para este grave tensão terá de ser mais global e abrangente: a solução dependerá do sucesso internacional na luta contra o terrorismo. Só com uma resposta firme e destemida contra as células terroristas – incluindo o Hamas – poderemos tornar o nosso mundo mais seguro. Em todas as latitudes. Se optarmos por uma leitura simplista, tentando encontrar “heróis” e “malditos”, “vítimas” e “vilões”, o problema persistirá, ressurgindo uma e outra vez – e o mundo será um lugar mais inseguro.