“Folga? Não consigo ver onde”, diz Maria Luís

A ministra das Finanças apresentou hoje um Orçamento Rectificativo que acomoda o impacto de cerca de 860 milhões de euros do chumbo do Tribunal Constitucional (TC) aos cortes nos salários. O buraco será tapado sem aumentos de impostos, mas Maria Luís Albuquerque não vê razões para alívios num documento que estima o défice em 130,9%…

“Folga? Não consigo ver onde”, diz Maria Luís

“Falar de folga provoca-me sempre um sorriso”, comentou Maria Luís Albuquerque na conferência de imprensa de apresentação do Orçamento Rectificativo, explicando que “continuamos a gastar mais do que as receitas que arrecadamos”, pelo que não faz sentido achar que há margem para alívios. “Folga? Não consigo ver onde”.

A queda do desemprego – que o Governo estima que se irá situar em 14,2% no final deste ano – e uma subida da receita fiscal são os principais factores que permitem ao Governo contornar o chumbo do TC sem ter de aumentar impostos.

Mas Maria Luís não se compromete com o que será o Orçamento para 2015. “A discussão do próximo ano ainda não se iniciou”, limitou-se a responder, sem confirmar ou desmentir se a subida do IVA para os 24% já em 2014 esteve ou não em cima da mesa.

A única garantia que Maria Luís Albuquerque dá é que a revisão do quadro macroeconómico vai permitir chegar ao fim de 2014 com o défice nos 4%, cumprindo a meta europeia.

Fora destas contas ficam as operações extraordinárias: a inclusão das dívidas da CP, SCTP e Carris e a recapitalização do Novo Banco, que todas somadas chegam aos 5,9% do PIB, mas não são tidas em conta de acordo com as regras europeias para os défices excessivos.

O Governo não sabe ainda como serão qualificadas estas operações pelas autoridades estatísticas, mas a ministra das Finanças assegura que “em qualquer caso, não muda o Orçamento, não tem consequências, não implica novas medidas”.

Maria Luís Albuquerque também recusa a ideia de que há derrapagem na despesa para lá do efeito do chumbo do TC. A ministra explica, por exemplo, o aumento de 0,4% na rubrica de aquisição de bens e serviços com o facto de os contratos programa com os hospitais empresa estarem inseridos neste item e, consequentemente, a massa salarial dos seus trabalhadores, que também foram alvo da decisão do Palácio Ratton. 

“Parece um aumento da despesa com a aquisição de bens e serviços, mas é pressão salarial”, justificou Maria Luís, que prefere destacar a “redução na despesa primária de seis mil milhões de euros”, que considera “muito significativa”.

Certo é que os ministérios estarão sob um escrutínio apertado, com ordens para congelar a despesa até ao final do ano.

margarida.davim@sol.pt