“Então andam agora a contratar gente da oposição (como António Vitorino, Barreto, Daniel Bessa ou Rui Tavares) para a Universidade de Verão do PSD?”, atirei-lhe com ironia, depois dos cumprimentos, e sentando-me na sua mesa.
“E qual é a admiração?”, ele tinha este costume de nunca se desmanchar, como se nada o apanhasse desprevenido, e sem explicação. “Se fôssemos buscar apenas gente do PSD, dos velhos tempos, seriam talvez ainda maiores opositores do nosso actual Governo”.
“Sim, isso é verdade”, tive de concordar. “Já não nos devemos surpreender então com nada. Nem com as nomeações europeias, numa cimeira em que nada mais se decidiu…”
“Decidiu-se o essencial, as nomeações”, vincou ele, sempre optimista. “Quanto ao resto, há anos que as Cimeiras Europeias nada resolvem, limitando-se a seguir a vontade do mais forte, que é Berlim. Mas até temo que as nomeações ali feitas não sejam tão inócuas como muitos pretendem. A ministra italiana dos Estrangeiros, Federica Mogherini, nesse cargo a nível europeu, até pode soçobrar na espinha dobrada de Roma em relação a Putin. Mas já o outro, o polaco, Donald Tusk, se mantém as posições que teve na Polónia, agora como chefe do Conselho Europeu, ainda pode dar inesperados desgostos a Merkel, e prazeres aos europeístas mais voluntariosos”.
“O pior é se os desgostos não vão vir antes do voluntarismo de Putin, perante a politica apaziguadora de Bruxelas”, ponderei eu.
“Tudo é possível”, rematou Calisto, sem perder o seu optimismo. “Pela minha parte, resguardo-me atrás das decisões do nosso Governo, sabendo que também ele se resguarda atrás das decisões da capital europeia mais forte, Berlim”.